Quem aqui já criou na imaginação o profissional da saúde ideal, seja ele médico, terapeuta, dentista, enfermeira, fisioterapeuta, psicóloga, etc.?
Gentil, atencioso, escuta atentamente, olha nos olhos, nos acolhe bem e sugere um tratamento que criamos na nossa cabeça e achamos “perfeito”!
Pois saiba que o mesmo acontece do outro lado.
Nós, profissionais da saúde, também criamos uma expectativa do paciente ideal, que é aquele que explica bem o que sente, faz perguntas e se interessa, faz tudo que recomendamos e consequentemente melhora. O paciente “perfeito”.
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Será que tudo isso é pura ficção? É claro que expectativas irreais acabam gerando frustrações e insucesso em qualquer tratamento. Mas, e se essas pessoas fossem possíveis?
De um lado, o profissional capaz, gentil, bom ouvinte e competente. Do outro, o paciente atento, comunicativo e ativo no seu cuidado? Seria maravilhoso! E eu percebo que estamos caminhando para um futuro promissor, se cada um for fazendo a sua parte.
O paciente protagonista
Na faculdade, nos ensinaram a conduzir uma consulta sempre de maneira hierárquica, ou seja, o profissional da saúde sabe tudo e o paciente, nada.
Nunca achei isso justo. Quando me especializei em dor crônica, e digo que me especializo todos os dias, me foi ensinado que o relato do paciente é sempre a informação mais importante. Para mim, é algo óbvio.
O paciente é especialista nele, ele que sente, ele que convive com tudo que percebe nas 24 horas do seu dia.
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Hoje, a neurociência nos diz que o paciente deve ser membro ativo nas decisões do tratamento, opinando e, juntamente com os especialistas, decidindo a melhor conduta terapêutica. Agora sim, chegamos ao que eu chamo de “Paciente do Futuro”, o protagonista.
Segundo o artigo “Busca de informações de saúde na Internet e a relação médico-paciente: uma revisão sistemática”, publicado em 2017 pelo Journal of Medical Internet Research, pacientes consultam o Google antes de ir ao médico; na consulta ficam atentos e tendem a avaliar se o profissional é bom ou ruim com base no que viram antes, na internet.
Vejam como o comportamento humano mudou!
Mas e essas influências?
E agora, com o avanço tecnológico e tantas ferramentas de inteligência artificial disponíveis, como ficará essa relação? Não importa, porque o que eu chamo de paciente do futuro saberá lidar com tudo isso!
O “paciente”, de uma forma ou de outra, sempre foi influenciado. Antes, era pelo que eu chamo de “medicina do vizinho”: aquela amiga que está tomando tal remédio para tal coisa e deu certo, então deve ser bom pra mim também.
Depois, passamos para a era do “Dr. Google”, onde pesquisas como a que eu citei acima mostram que as pessoas confiam mais no Google em vez de confiar no especialista em saúde.
Agora estamos entrando na era “Dra. IA Chat GPT.”
“O que será, que será…”, diria Chico Buarque. O mais importante aqui é descobrir como lidar com esse comportamento e com a crença generalizada de que a internet sabe mais e é soberana.
A resposta deve ser formando e informando, educando, incluindo paciente nas decisões, conversando… E entendendo o que essa busca feita previamente significa para ele.
Ninguém é soberano. E todos, dentro de suas capacidades e limitações, podem contribuir para a melhora do protagonista.
Características do paciente do futuro
Em quantas delas você se encaixa?
- Busca ajuda
- É especialista em si mesmo
- Está aberto a conversar e trocar saberes
- Comunica o que sente sem medo
- Questiona e opina na proposta terapêutica junto com o profissional
- Conta o que já fez que funcionou, o que não funcionou e por que
- Decide junto com os profissionais
- Se responsabiliza pela sua parte do combinado
- Aprende a acessar informações científicas seguras
- Usa a internet a seu favor (lembrando que os profissionais da saúde têm como obrigação informar seus pacientes sobre fontes seguras e confiáveis)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere a abordagem do Cuidado Centrado no Paciente, ou seja, que o profissional reconheça que, antes das pessoas se tornarem pacientes, elas são seres humanos, capazes de se tornarem responsáveis a fim de promover e proteger sua saúde.
Ou seja, os especialistas devem se preocupar em se comunicar mais e melhor, compartilhar e respeitar. O paciente do futuro, protagonista da sua saúde, só vai prosperar se o profissional da saúde for do futuro também!
Em breve, outro artigo sobre o tema.
* Mariana Schamas é cinesiologista, pós-graduada em dor, criadora do método ECAD e aplicativo DOLORI.