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Os destaques de um oncologista no maior congresso sobre câncer do mundo

Paulo Hoff compartilha o que viu de interessante no encontro anual da Asco, realizado neste mês nos Estados Unidos

Por Paulo Hoff, oncologista*
14 jun 2024, 10h21

A medicina personalizada deixou de ser uma promessa e está cada vez mais presente na oncologia. Se no passado nos referíamos a terapias para câncer de mama de forma genérica, hoje falamos de tratamentos específicos, como aqueles voltados ao câncer de mama triplo negativo ou ao câncer de mama HER-2 positivo, entre outros.

E este processo está cada vez mais refinado e complexo. Ao definir um tratamento, leva-se em conta o órgão de origem, o estadiamento, as características moleculares e as condições do paciente. As opções de estratégia são cada vez maiores.

A reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, em inglês), que terminou em 4 de junho, reforçou ainda mais essa tendência. Cerca de sete mil trabalhos foram inscritos no congresso, o que evidencia o interesse e a diversidade de abordagens da doença.

Uma das conclusões é que a famosa pergunta “Quando virá a cura do câncer?” não tem uma resposta, porque o câncer não existe como uma entidade única. Há, sim, uma coleção de doenças – causadas por diferentes mutações no código genético das células -, conhecidas como câncer, mas muito diferentes entre elas. Para cada uma delas, o tratamento será muito distinto em relação às demais.

Apesar de não ser fácil apontar os trabalhos mais importantes do maior congresso de Oncologia do mundo, vou destacar alguns com potencial para mudar a prática diária.

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Esperança contra um tipo muito grave de câncer de pele

O tratamento padrão do melanoma inclui cirurgia e um ano de imunoterapia complementar. De acordo com estudo apresentado no congresso, o tumor desapareceu total ou quase completamente em 59% dos pacientes que receberam dois meses de imunoterapia com ipilimumabe e nivolumabe antes da cirurgia.

A técnica reduziu, e muito, a duração e o custo do tratamento, além da incidência de eventos adversos, com resultados similares ao tratamento anterior.

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Avanços contra o câncer de pulmão

Este foi um dos grandes destaques. Um trabalho analisou como tratar os pacientes com a doença localmente avançada e a mutação de EGFR. Acreditava-se que o tratamento padrão com quimioterapia associada a radioterapia poderia levar à cura desses pacientes.

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No entanto, a adição de uma terapia alvo, osimertinibe, aumentou de forma significativa a sobrevida livre de progressão da doença para estes pacientes.

Outro trabalho revelou que o uso de lorlatinibe, outra terapia alvo, interrompeu a progressão do câncer de pulmão causado pela mutação do gene ALK . Após cinco anos do uso de lorlatinibe, 60% dos participantes do estudo estavam vivos e com vidas praticamente normais.

Esses trabalhos trouxeram uma notícia boa e outra ruim. A boa foi o benefício do medicamento, e a expectativa de controle da doença por muitos anos, mostrando que a “cronificação” da enfermidade é possível. A ruim é que esses pacientes na realidade não estão curados, e terão que tomar o medicamento provavelmente pelo resto da vida para impedir a volta da doença. Certamente um avanço, mas aquém do que gostaríamos.

+ Leia também: Câncer de pulmão gera mais de R$ 1 bilhão de prejuízo por ano ao Brasil

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Ainda em relação a tumores do pulmão, a adição de um imunoterápico, durvalumabe, melhorou o tempo de controle e sobrevida global de pacientes com câncer de pulmão de pequenas células em fase inicial. Foi o primeiro avanço significativo neste tipo de câncer em décadas, e sinaliza que mesmo os tumores mais complexos têm expectativa de melhora nos seus tratamentos.

Cuidados à distância

Finalmente, desde a pandemia de Covid-19 houve um aumento no uso de telemedicina, e há um grande interesse na comparação deste tipo de atendimento com a avaliação presencial.

Pacientes com câncer de pulmão avançado receberam cuidados paliativos via telessaúde, comparados com atendimento usual. Este trabalho comprovou que a modalidade pode ser eficaz, o que permitiria ampliar o acesso a esses cuidados por pacientes que vivem em regiões sem infraestrutura médica – fato importante para países com dimensões continentais como o nosso.

Em resumo, os avanços apresentados no congresso da Asco confirmam as tendências surgidas na última década. Ou seja, a participação crescente da imunoterapia, a personalização do tratamento baseado em alterações moleculares, a cronificação dos tumores que ainda não tenham cura e o aumento no porcentual de pacientes com opções potencialmente curativas.

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Infelizmente, outra tendência importante que se confirma é o aumento contínuo dos custos do tratamento.

Nós, médicos, vivemos um momento peculiar, de muita esperança e euforia com esses avanços, modulados por uma certa angústia e ansiedade. Afinal, de que servem todos esses avanços, se eles não puderem chegar a todos? Esse dilema não se restringe ao Brasil, onde sabidamente há necessidade de maiores aportes na saúde.

Economias muito mais maduras do que a nossa também enfrentam dificuldade para incorporar todas essas novas tecnologias sem levar o sistema a um colapso financeiro.

Infelizmente, muitas vezes vemos um descompasso entre o benefício e o custo de novos tratamentos. Precisamos de um grande esforço envolvendo profissionais da saúde, governo, fontes pagadoras, pacientes e indústria para encontrar um mecanismo que permita que os avanços cheguem a todos que precisem e possam realmente deles se beneficiar.

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Ao mesmo tempo, precisamos aprender a limitar o uso de terapias que apresentem ganhos marginais a um custo elevado. Não é tarefa simples, mas precisa ser feito pelo bem dos nossos pacientes.

*Paulo Hoff é médico oncologista, presidente da Oncologia D’Or, professor titular da Disciplina de Oncologia Clínica do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), membro pregresso do Conselho Diretor da ASCO.

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