Este ano que já começou com tudo exigirá das empresas muita atenção com a saúde mental de suas pessoas. Além de estarmos passando por um momento delicado (com desafios da macroeconomia global, questões climáticas, guerras e outras coisas que afligem as pessoas), o tema do bem-estar dos trabalhadores sofre com estigma e preconceito.
Ampliar o entendimento das causas de adoecimento mental ajudará as empresas a terem uma atuação mais ampla na prevenção e no cuidado. Não podemos considerar que somente palestras, meditação, férias ilimitadas, horários flexíveis, ambientes pet-friendly, entre outros benefícios, cumprirão a difícil missão de garantir que as pessoas não adoeçam emocionalmente por causa do trabalho.
Os fatores de risco relacionados ao trabalho são responsáveis pelo chamado estresse ocupacional, que, quando mal gerenciado, pode levar a um quadro de burnout. É preciso ter um olhar cuidadoso sobre o ambiente de trabalho, a segurança psicológica, as lideranças e a carga de trabalho, entre outros aspectos.
Tornou-se mandatório preservar a saúde mental dos funcionários; assim, o tema é estratégico para o negócio e precisa estar na pauta de conselhos e lideranças em geral.
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Na prática, o que fazer?
Primeiro, é importante saber como está a saúde mental dos funcionários e sua relação com o trabalho. Isso envolve começar com um bom mapeamento da saúde mental e dos estressores – os fatores de risco relacionados ao trabalho.
É preciso coragem e confiança para perguntar: como o ambiente de trabalho pode estar contribuindo para o adoecimento? Isso dará uma visão ampla das necessidades e dados mais fiéis à realidade e possíveis causas de adoecimento.
Identifique também os fatores de proteção para que possam ser reforçados!
Avalie se existe segurança psicológica na empresa, que, segundo a pesquisadora Amy Edmondson, é a crença de que o local de trabalho é seguro para riscos interpessoais, com abertura para dar ideias, manifestar dúvidas e preocupações, além de assumir erros e pedir ajuda.
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Casos graves precisam de apoio imediato, evitando assim afastamentos e situações mais complexas, como ideação suicida. Mas lembre-se: as pessoas só pedem ajuda quando confiam e se sentem seguras.
A partir do mapeamento, estabeleça um plano de ação com base nas prioridades identificadas, contemplando todos os cenários: indivíduo, organização e ambiente externo.
Tenha um cronograma anual de atividades psicoeducativas que promovam o autoconhecimento e o autocuidado, fatores essenciais na prevenção do adoecimento mental.
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Já o treinamento das lideranças deve contemplar aspectos do que, na Mental Clean, consultoria em saúde mental no trabalho, denominamos de os “5 comos”:
- Como identificar, em si e no outro, sinais e sintomas de questões ligadas ao adoecimento mental
- Como abordar
- Como encaminhar
- Como acompanhar
- Como prevenir o adoecimento mental
Também vale incluir a gestão da saúde mental dos funcionários nos exames periódicos de todas as pessoas, com atenção especial aos fatores de risco.
Para ser inclusiva, a saúde mental no trabalho precisa ter ações direcionadas a grupos específicos, como os de causas afirmativas. E também adotar uma política de cuidado para os neurodiversos que possuem necessidades específicas.
O ideal é que as ações acima estejam dentro de um programa estruturado de saúde mental no trabalho, com atuação nos três níveis de intervenção: organização, indivíduo e ambiente. O foco central é na prevenção (diminuição da incidência e de novos casos), e não só com atuação no tratamento.
A saúde mental deve fazer parte da cultura da empresa, e não ser apenas mais um benefício.
*Fátima Macedo é CEO da Mental Clean. Especialista em psicologia da saúde ocupacional e terapia cognitivo-comportamental, é membro fundadora do SAMPO – Ambulatório de Saúde Mental do Trabalhador – do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e membro do Grupo Mulheres do Brasil.