O que é conviver com a psoríase desde os 12 anos
No dia de conscientização sobre essa doença que afeta a pele e abala a autoestima, uma mineira relata sua história de tratamento e superação
Me lembro como se fosse hoje. Apareceram manchas que coçavam muito em algumas partes do meu corpo, como braços, pernas e couro cabeludo. Minha mãe me levou ao dermatologista e, com uma biópsia, veio a confirmação do diagnóstico de psoríase.
Tive sorte, pois muitas pessoas demoram bastante para ter o diagnóstico correto, seja por falta de informação ou confusão com outras doenças, seja pela falta de acesso a um especialista. Na época, eu não tinha convênio e fui atendida por um clínico geral do SUS. Levou tempo até eu ser encaminhada a uma consulta com um profissional especializado.
A dermatologista receitou um creme. Melhorei e, por isso, não retornamos mais às consultas. Com o tempo, os sintomas voltaram. Me senti frustrada, pois seguia o tratamento e, mesmo assim, não melhorava.
Minha saúde mental também foi impactada. Minha adolescência foi traumática. Me chamavam de “perebenta” e me olhavam com nojo. Eu ia para a escola, em pleno verão, de blusa com touca para tentar esconder as lesões. Tinha vergonha e medo.
Para quem não sabe, a psoríase é uma doença não contagiosa e causada por um desequilíbrio no sistema imune. Afeta principalmente adultos jovens, entre os 20 e os 40 anos, e os principais sintomas são prurido, ardor, dor, sensação de queimação e lesões na pele.
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Apesar dos desafios, a vida seguiu. Aos 16 anos, comecei a namorar. E acredito que esse período tenha contribuído para as manchas diminuírem. Porém, quando o namoro chegou ao fim, a psoríase ressurgiu.
Aos 19, conheci outra pessoa e engravidei. No início, poucas lesões deram as caras. Com o tempo, o relacionamento ficou conturbado e, em meio ao estresse das discussões e brigas, as lesões voltaram com tudo e se espalharam. Quase não conseguia me movimentar de tanta dor.
Fui ao hospital com minha mãe, mas não havia estrutura para um atendimento adequado. Passaram vaselina em meu corpo, me enfaixaram e me entupiram de corticoides para conter a inflamação. Ainda assim, as dores e as lesões não diminuíam. A equipe médica nos aconselhou a deixar Cambuí (MG), onde morávamos, e procurar assistência em Pouso Alegre (MG), onde havia mais estrutura.
Eu, grávida, chorava de tanta dor. Chegando lá me levaram para um quarto isolado, pois minha pele estava sensível e sob risco de infecção. Eu queria morrer, mas pensava na minha filha. Nunca mais vou esquecer a dermatologista que me atendeu. Ela começou a me desintoxicar de todas as medicações que eu estava tomando e me receitou um remédio que ajudou a diminuir as dores, as cascas e as bolhas na pele.
Tive alta em 18 dias. Já conseguia ficar de pé sozinha e me movimentar sem dor. Comecei o tratamento e fui melhorando. Um mês depois, voltei ao hospital de Pouso Alegre. Desta vez para ganhar minha filha. E continuei com o tratamento receitado.
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Em junho de 2021, contraí Covid-19 e as lesões voltaram. Quase fui internada novamente. A dermatologista me atendeu, receitou um medicamento imunobiológico, pois já conhecia o meu histórico de tratamentos. Fiz todos os exames e dali para frente sabia que teria uma vida normal.
Ao todo, foram quatro meses para as lesões do meu corpo sumirem. Fui à praia pela primeira vez sem vergonha de mostrar o corpo e pude tirar fotos de momentos que me faziam feliz. Desde então faço uso da medicação biológica.
Sou grata a minha mãe e a dermatologista. Hoje posso dizer que sou feliz, mesmo convivendo com a psoríase. Tento controlar o meu estado emocional, porque sei que ter a saúde mental em dia é fundamental para deixar a doença quietinha. Comemoro um ano de vida normal, ciente de que tenho psoríase, mas ela não me tem mais.
* Caroline Barbosa de Almeida é arte-finalista, mora em Cambuí (MG), tem 25 anos e diagnóstico de psoríase desde os 12