O papel essencial do médico de família e comunidade na promoção da vida
Esse profissional tem as mais diversas atribuições dentro do postinho, e sua atuação é determinante para garantir uma saúde mais digna à toda população
Tratamento de doenças crônicas como pressão alta, diabetes ou asma? A gente faz. Pré-natal? Também. E depois que a criança nasce? Pode trazer que a gente acompanha. E quem não quer ter filhos agora? Vem que a gente conversa sobre contracepção, escolhe o método mais adequado e ainda bate um papo sobre rastreio de infecções sexualmente transmissíveis.
Mas e se quiser colocar o DIU? A gente coloca. E outros procedimentos, como retirada de cisto sebáceo ou remoção de unha encravada? É com a gente mesmo. Mas e quem não consegue ir até o posto? Não tem problema, a gente visita em casa.
Essas são apenas algumas das muitas atribuições do médico de família e comunidade (MFC).
Trata-se do profissional responsável pelo atendimento médico na Atenção Primária à Saúde (APS). A APS é a porta de entrada dos usuários no SUS: é a Clínica da Família, a Unidade Básica de Saúde ou o postinho.
Existem muitas complexidades na APS, como em outras áreas da saúde, e a faculdade não é suficiente para capacitar o profissional a atender estas demandas. Da mesma forma que um médico deve se especializar para fazer cirurgias ou trabalhar em uma UTI, também precisa adquirir habilidades específicas para atuar no postinho.
Especificidades do dia a dia
O profissional da Atenção Primária precisa ter não apenas conhecimentos biomédicos, mas também saber mapear o seu território de atuação para entender as demandas locais, usar técnicas de abordagem familiar, trabalhar em conjunto com outros profissionais da equipe (como enfermeiro, técnico e agentes comunitários de saúde), além de atuar em parceria com os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e serviços da atenção secundária.
A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade médica reconhecida oficialmente pela Associação Médica Brasileira. Os primeiros programas de residência começaram em 1976 em Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro.
Com a implementação da Estratégia de Saúde da Família no SUS desde 1994, a especialidade ganhou força e muitos outros programas foram criados.
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Isso se intensificou ainda mais na última década, quando o governo federal tomou uma série de medidas para fortalecer a Atenção Primária à Saúde em todo o país, com o objetivo de diminuir desigualdades regionais e ampliar a cobertura da atenção básica.
Garantir acesso a atendimento adequado em saúde não significa apenas abrir unidades e contratar médicos: é fundamental qualificar adequadamente os profissionais que vão atender à população.
Com capacitação de profissionais e infraestrutura apropriada, cerca de 90% das demandas podem ser resolvidas na Atenção Primária, sem necessidade de encaminhamento.
A pandemia de Covid-19 mostrou claramente o papel fundamental do médico de família e comunidade e da Atenção Básica no SUS. Trabalhadores de UTI e enfermarias foram importantes, sem dúvida, mas a verdadeira “linha de frente” foi a equipe de saúde da família.
A grande maioria das pessoas com sintomas de Covid-19 recebeu atendimento, teste e aconselhamento no seu postinho local. E quando finalmente chegaram as vacinas, foi lá também que essa população foi imunizada.
Que neste 5 de dezembro, Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, a gente possa reconhecer a potência da especialidade para combater as desigualdades no Brasil e viabilizar um SUS cada vez mais humano, democrático e eficiente.
*Mariana Fonseca é médica de família e comunidade e guia da Equipe Halo, da ONU