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O papel da biópsia líquida no diagnóstico e no tratamento do câncer

No Dia Nacional de Combate ao Câncer, especialistas explicam o papel dessa tecnologia na detecção, no prognóstico e no tratamento da doença

Por Gustavo Campana, patologista, e José Eduardo Levi, biólogo*
Atualizado em 1 dez 2020, 09h07 - Publicado em 27 nov 2020, 11h50
biópsia líquida
Biópsia líquida ajuda a identificar recorrência do tumor e planejar tratamento. (Foto: GI/Getty Images)
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Nos últimos anos, a incorporação de um novo arsenal contra o câncer, em especial as terapias-alvo e a imunoterapia, tem revolucionado os tratamentos, trazendo impacto também nas ferramentas para diagnóstico precoce ou prognóstico da doença e monitoramento das recorrências. Isso porque ambas as famílias de medicamentos contam com a peculiaridade de estarem necessariamente associadas a uma caracterização molecular e genética dos tumores.

Um dos grandes avanços para entender o DNA do câncer e suas variantes emprega técnicas de investigação da presença do DNA das células tumorais de forma livre na circulação sanguínea — conhecidas no meio científico como ctDNA ou cell-free tumor DNA. O conjunto de novos testes diagnósticos baseados em ctDNA, que se valem de diferentes metodologias de sequenciamento, foi denominado “biópsia líquida”.

A primeira demonstração prática da biópsia líquida, aprovada pelo órgão regulador americano, o FDA (Food and Drug Administration, se deu no contexto do câncer de pulmão metastático, visando o tratamento de casos com mutações em um determinado gene (EGFR), detectadas via ctDNA, com terapia-alvo de inibidores de tirosina quinase (TKIs). Posteriormente, foram desenvolvidos painéis que cobrem 73 genes e quatro tipos de alterações genômicas, podendo ser aplicáveis à praticamente qualquer tumor sólido.

Até o momento, os testes de biópsia líquida são divididos em três grupos que têm em comum os mesmos genes investigados, de forma única ou em painéis, e conferem alguma possibilidade de intervenção ou informação prognóstica:

1. Os que buscam mutações pontuais ou outras alterações em alvos acionáveis para pacientes em tratamento de câncer metastático;
2. Os que avaliam o prognóstico ou detectam recidiva de forma precoce;
3. Os que identificam alterações específicas e precoces para rastreio ou triagem de pessoas de alto risco para aquele câncer.

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Outra família de biópsias líquidas, extremamente inovadora, tem como missão identificar as alterações epigenéticas do DNA — aqui não há mutação propriamente dita, mas mudanças na expressão de alguns genes. Esse processo pode identificar alterações relativamente precoces no processo carcinogênico e, assim, servir para a detecção e o rastreamento de tumores.

É fundamental ressaltar, no entanto, que a biópsia tecidual — que identifica o órgão acometido, tipo histológico, tamanho do tumor etc. — segue insubstituível e considerada a estratégia central para o diagnóstico inicial e definição da terapia. As informações geradas pela biópsia de tecido não são supridas pela biópsia líquida.

De forma mais sofisticada, as informações do tecido tumoral geradas pelas análises de bioinformática permitem hoje customizar a detecção das ctDNA de forma personalizada. O aumento dos níveis de ctDNA indica a recorrência e a falha do tratamento. Essas metodologias estão se tornando cada vez mais acessíveis em termos de custo, permitindo análises quantitativas seriadas ao longo do tempo, por meio de uma simples coleta de sangue.

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Desenvolvida pela empresa californiana Natera e oferecida no país pela Dasa, a nova biópsia líquida chamada Signatera é um teste disruptivo, que pode ser usado na maioria dos tumores sólidos e fornece informações seguras sobre o status tumoral em tempo real. E a atualização on time permite intervenções mais precoces capazes de gerar melhores resultados clínicos, ao mesmo tempo que evita procedimentos custosos de monitoramento e tratamentos desnecessários.

*Gustavo Campana é diretor médico da Dasa e José Eduardo Levi é coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo

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