Promoção: Revista em casa a partir de 10,99
Imagem Blog

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde

Morrer de trabalhar: sofrimento e suicídio no mundo do trabalho

Condições inadequadas de trabalho podem favorecer transtornos mentais e ideação suicida. Precisamos conscientizar as pessoas e as empresas

Por Karina Uchôa, pesquisadora na área de qualidade de vida no trabalho*
Atualizado em 28 set 2020, 16h30 - Publicado em 28 set 2020, 12h07
suicídio no trabalho
Doenças ocupacionais como burnout podem contribuir com casos de suicídio.  (Ilustração: Daniel Araújo/SAÚDE é Vital)
Continua após publicidade

Estaríamos colocando nossas vidas em risco pelo salário que recebemos? Dados recentes revelam que, a cada dia, mais pessoas adoecem pelas frustrações ocasionadas por ambientes tóxicos de trabalho e isso contamina inclusive sua vontade de viver. Mesmo no século 21, com tantos recursos à disposição, o esgotamento físico e mental no trabalho vem contribuindo com transtornos psicológicos, ideação suicida e mortes por suicídio. Infelizmente, a crise sanitária e socioeconômica que estamos vivendo só tende a agravar as coisas.

Passamos ao redor de dois terços do nosso tempo diário dedicados ao trabalho — quando não diretamente ou in loco, de forma indireta com planejamentos, mensagens e deslocamentos. Com isso, restam poucas horas do dia para nos dedicarmos a atividades que trazem relaxamento e minimizam as dores da rotina. Quando uma pessoa trabalha sob condições difíceis e alimenta a intenção de tirar a própria vida, essa ideia reflete a vontade de encerrar um ciclo de sofrimento. Nessas horas, é crucial encontrar um significado naquilo que somos e fazemos e resgatar a compreensão de quanto a vida vale a pena.

O suicídio tornou-se uma pauta global nos últimos anos. Desde 10 de setembro de 2003, nos lembramos ainda mais da causa com o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data remete ao falecimento do jovem Mike Emme, que morreu por suicídio em 1994 dentro do seu Mustang amarelo. No funeral, amigos e familiares distribuíram cartões e fitas amarelas, inspirando a adoção da cor para a campanha.

Hoje falamos no Setembro Amarelo. No Brasil, entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV), a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) passaram a difundir a campanha desde 2015. É um tema que não podemos deixar de abraçar.

O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo hoje. E, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 90% dos casos podemos identificar as razões do pensamento suicida e prevenir seu desfecho com medidas pontuais e responsáveis e ajuda especializada. Nesse sentido, precisamos desfazer mitos como “quem tenta não faz”, “fez aquilo para chamar atenção” ou “suicídio acontece sem aviso”. Devemos estar atentos a sinais e comportamentos que denunciam a ideação suicida, muitas vezes expressos em frases como “eu não aguento mais” ou “preferia estar morto”.

Continua após a publicidade

O Ministério da Saúde publicou em 2017 um estudo que aborda as principais características do problema em nosso país, onde ao redor de 11 mil pessoas tiram a vida por ano, a maioria homens. A pesquisa detecta um aumento na taxa de suicídio entre 2011 e 2015, bem como um crescimento nas lesões autoprovocadas — 69% das tentativas de suicídio ocorrem em mulheres ante 31% em homens, e os meios mais utilizados são envenenamento e intoxicação.

A ligação entre suicídio e trabalho é complexa. Os dados obtidos são geralmente produzidos por segmentos e nem sempre retratam a realidade. Em muitos casos, as pessoas que estão sofrendo em seus ambientes corporativos ou institucionais não denunciam ou falam a respeito. Sabemos, contudo, que doenças ocupacionais — de lesões por esforço repetitivo (LER) e dores crônicas a transtornos psiquiátricos e síndrome de burnout — podem levar o indivíduo ao suicídio se não diagnosticadas e tratadas adequadamente. Assim, o contato com o profissional de saúde é fundamental nesse processo de flagrar as causas e encaminhar soluções para amenizar o sofrimento físico e psíquico.

O excesso de tarefas aliado a uma gestão insensível e avassaladora é uma questão que se agravou com a pandemia e as novas condições de trabalho remoto, incerteza de vínculo laboral e risco e aumento do desemprego. É comum observarmos a ausência de ações efetivas por parte das empresas no que diz respeito aos cuidados com a saúde do trabalhador, sem contar casos de assédio moral e burnout.

Continua após a publicidade

Programas privados e políticas públicas robustas para a promoção de um ambiente de trabalho saudável (presencial ou remoto) nunca foram tão importantes, assim como o fortalecimento dos Centros de Ação Psicossocial (CAPs) e a efetivação da Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. Não podemos ficar parados. O trabalho não pode ser visto como fonte de sofrimento.

* Karina Uchôa é pesquisadora na área de qualidade de vida no trabalho e professora de Direito

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SEMANA DO CONSUMIDOR

Assine o Digital Completo por apenas R$ 5,99/mês

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas R$ 5,99/mês*
ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
Receba a revista em casa a partir de 10,99.
a partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.