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Há mais ex-fumantes do que fumantes no Brasil. Como manter essa tendência?

No Dia Nacional de Combate ao Fumo, médico da Fundação do Câncer mostra como a dependência por cigarro é um problema no Brasil e revela o que devemos fazer

Por Alfredo Monteiro Scaff, epidemioogista*
Atualizado em 29 out 2019, 10h58 - Publicado em 29 ago 2018, 07h59
dia nacional de combate ao fumo: como parar de fumar
Toda a sociedade deve agir em conjunto para vencermos o cigarro e seus estragos (Foto: GI/SAÚDE é Vital)
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Desde 2008, a população de ex-fumantes superou a de fumantes no Brasil. Em virtude das ações de controle do tabagismo, já são mais de 25 milhões de brasileiros que sentem os benefícios de ter abandonado o cigarro. A estatística foi apresentada na Pesquisa Especial de Tabagismo – PETab: relatório Brasil, do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Já segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2013, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fundação Oswaldo Cruz, restam 21 milhões de fumantes no país. Como o profissional de saúde pode contribuir para que eles passem para o outro lado dessa estatística?

Para se tornar um aliado no combate ao fumo, o profissional precisa, primeiramente, compreender o tabagismo como dependência, uma questão que vai além da escolha. Os próximos passos são:

1. Reconhecer o grau de dependência da nicotina e o estado de saúde do paciente
2. Avaliar o nível de motivação para abandonar o cigarro
3. Em seguida, definir a abordagem e o tratamento

É necessário oferecer ao tabagista uma possibilidade real, concreta a curto prazo e com todo o apoio necessário para parar de fumar. Ele deve se sentir acolhido, não julgado.

Quando o fumante ainda não está motivado a abandonar o vício, conhecer os riscos de doenças relacionadas ao tabaco pode ser um fator estimulante. Metade dos fumantes vão morrer por alguma doença relacionada ao tabaco, segundo o World Cancer Report 2008, relatório elaborado pela Organização Mundial da Saúde.

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A razão dessa estimativa é que as substâncias presentes principalmente no cigarro industrializado (mas também no charuto, cachimbo, rapé, narguilé ou cigarro eletrônico) estão associadas a mais de 70 enfermidades. Entre elas, infarto, derrame, tuberculose, diabetes, catarata, artrite, desordens do sistema imunológico, problemas reprodutivos em homens e mulheres, além de diversos tipos de câncer.

De acordo com estatísticas do Inca, 90% dos casos de câncer de pulmão têm origem no tabagismo. É um dos tipos mais agressivos e com maior letalidade: somente 14% dos homens e 18% das mulheres vivem por mais de cinco anos após o início do tratamento, segundo dados recentes da Fundação do Câncer. Quanto mais tempo se é fumante e mais cigarros se consome, maiores são os riscos.

Enfrentando a dependência de frente

Ainda que decidido a abandonar o cigarro, o fumante vai esbarrar nos obstáculos da dependência física e psicológica e do condicionamento. Para determinar a intensidade do problema, o método mais amplamente utilizado é o Teste de Dependência de Nicotina de Fagerström, composto de perguntas simples e uma escala de pontuação que varia de acordo com as alternativas de resposta. O diagnóstico varia de dependência “muito baixa” a “muito elevada”. Esse resultado é enriquecido pelo histórico do indivíduo, como a idade em que começou a fumar, se há outros tabagistas na família e se já tentou largar o cigarro anteriormente.

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A dependência física é causada pela nicotina, que atua diretamente no cérebro. Os efeitos sobre os sistemas dopaminérgicos, responsáveis pela sensação de prazer, são semelhantes aos de drogas como heroína e cocaína.

A falta da nicotina provoca a síndrome da abstinência, cujos sintomas refletem, na verdade, o ajuste do organismo à ausência da substância. Ou seja, nada mais do que a recuperação do corpo para seu estado natural e saudável.

Já a dependência psicológica está ligada ao espaço que o cigarro ocupa na vida do fumante. É comum colocá-lo na posição de um amigo, a quem se recorre para lidar com emoções extremas, criando-se assim um vínculo emocional.

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No entanto, o aspecto mais arraigado e, por isso, talvez o mais difícil de combater seja o condicionamento. São as questões comportamentais e as conexões que o fumante estabeleceu entre determinadas tarefas rotineiras, como tomar café ou dirigir, e o cigarro. Romper esses hábitos é fundamental para manter a abstinência.

De acordo com o Programa Nacional de Controle do Tabagismo do Inca, a abordagem que demonstrou maior eficácia no tratamento é a cognitivo-comportamental (ACC). O paciente busca entender a origem do vício, como ele se estabelece e se desenvolve para, então, reequilibrar as emoções e aprimorar o comportamento.

O Programa orienta os profissionais a incorporar, em sua rotina de atendimento, como consultas e sessões de terapia, uma abordagem breve, mas suficiente para o indivíduo abandonar o cigarro definitivamente.

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O estudo Demografia Médica no Brasil de 2015, conduzido por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), revela a seguinte estimativa: se metade dos médicos e enfermeiros do nosso país abordassem um tabagista todos os meses, eles ajudariam mais de 3 milhões de pessoas por ano a tentar parar de fumar.

Durante a jornada de abandono do tabagismo, os profissionais de saúde irão confrontar uma série de crenças, sentimentos complexos e estigmas sociais relacionados ao ato de fumar e ao cigarro. A desconstrução de preconceitos e a abertura ao aprendizado são fundamentais para que, juntos, profissional e paciente desenvolvam estratégias individualizadas para combater o vício e minimizar os efeitos colaterais do processo.

*Alfredo Monteiro Scaff é mestre em Saúde Coletiva e Epidemiologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, é médico epidemiologista da Fundação do Câncer, sediada no Rio de Janeiro, organização privada, filantrópica e sem fins lucrativos que, há 26 anos, atua na prevenção e controle do câncer no Brasil.

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