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Emoções: melhor pensar em gerenciamento do que em controle

Dado que emoções são reações químicas do corpo, a forma adequada de se referir ao manejo delas deve ser o gerenciamento ou regulação emocional

Por Carla Tieppo, neurocientista*
11 nov 2023, 11h33
Raiva, alegria, medo, nojo são emoções inatas, compostas de reações fisiológicas (VEJA SAÚDE/SAÚDE é Vital)
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Somos herdeiros de uma tradição, o dualismo cartesiano, a tese de que corpo e mente são organismos separados.

Entretanto, na contemporaneidade, é necessário pensar no problema mente/cérebro.

As pesquisas em neurociência defendem que a mente tem uma base física, o cérebro. Portanto, para começar a compreender a emoção, assim como os demais processos com bases neurais, devemos reavaliar a forma como nos relacionamos na prática com o conceito de “mente” em nosso cotidiano.

Esta é a chave para compreendermos em profundidade a relação a ser desenvolvida entre razão e emoção, bem como as diferenças entre emoções e sentimentos.

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+Leia também: Motivações compulsórias: de onde vêm os vícios?

Emoção x sentimento

Emoções são um conjunto de reações químicas e neurais mensuráveis, que envolvem sudorese, taquicardia e contrações musculares que se desdobram ao longo do tempo e alteram o estado do indivíduo.

Já o sentimento se refere à qualidade, ao significado que o próprio indivíduo dá a essas alterações fisiológicas. Assim, uma mesma causa não corresponderá, necessariamente, a um mesmo efeito.

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Por este motivo, a forma adequada de se referir ao manejo das emoções é por meio dos termos gerenciamento ou regulação emocional, em oposição a ideia de controle emocional.

Para alguns autores, a regulação emocional refere-se à “implementação de um objetivo consciente ou não consciente, respectivamente, para iniciar, parar ou de outra forma modular a trajetória de uma emoção”.

Já para outros, “é desencadeada quando a própria reação emocional se torna alvo de avaliação ou quando há conflito entre diferentes percepção-avaliação-ação de reatividade emocional na determinação do comportamento”.

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A desregulação emocional

As emoções moldam a forma como pensamos, sentimos e nos comportamos e podem ser reguladas de diferentes maneiras.

Portanto, a desregulação emocional implica em respostas emocionais excessivas, inadequadas e insuficientes a um estímulo, impactando diretamente as relações interpessoais em diferentes esferas.

Vivemos em uma sociedade que valoriza o cognitivo em detrimento do emocional, representando a ideia do dualismo mencionado no início do texto.

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No entanto, a emoção é subjacente ao cognitivo. A percepção das entradas sensoriais, implica em reatividade emocional e em refletir um juízo sobre o estímulo.

Se, como escreve o psiquiatra Amit Etkin, “uma discrepância entre o estado emocional previsto e a emoção real pode ser considerada um erro de previsão, indicando que a ação regulatória não atingiu o resultado esperado”, a motivação de evitação e a abordagem por meio do medo e da alegria podem impedir uma situação perigosa ou levar o indivíduo a querer repeti-la.

Podemos entender que “os padrões de ativação cerebral durante diferentes paradigmas de regulação emocional podem refletir processos de aprendizagem de curto prazo observados em tempo real ou as consequências de muitos anos de prática”, como desenvolvido por Etkin.

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Existem 6 emoções básicas – alegria, tristeza, medo, raiva, nojo e surpresa – que nos são inatas, ou seja, são comuns a todos os indivíduos de uma mesma espécie, e, portanto, independem de fatores socioculturais.

Logo, é possível reverter, por exemplo, a inversão de valores imposta pela convenção social na regulação emocional das crianças e adolescentes, uma vez que não é incomum expressões como “Homem não chora!” ou “Engole esse choro”.

Se não ser capaz de expressar e/ou suprimir a nossa emocionalidade tem um efeito mais negativo do que as desvelar, então, as emoções são informações preciosas. Escute com atenção o que elas têm a dizer.

*Carla Tieppo é neurocientista, professora e pesquisadora na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, coordenadora dos cursos de pós-graduação em Neurociência e o Futuro Sustentado de Pessoas e Organizações e Neurociência Aplicada à Educação.

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