Segundo o Our World In Data, em 2017, 792 milhões de pessoas viviam com um transtorno mental. Isso representa um pouco mais de um entre dez indivíduos pelo mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, cerca de 19 milhões de pessoas têm doenças psíquicas que envolvem especificamente respostas de medo persistentes e exageradas a estímulos aparentemente comuns.
É preciso entender que o medo é uma emoção primitiva e, tantas vezes, foi o que salvou nossos antepassados do perigo e ajudou a preservar a espécie. Continua ajudando. O cérebro interpreta como risco de vida ou morte inúmeras situações do dia a dia.
E é uma emoção que não dá para menosprezar. Começamos a sentir medo de forma mais consciente em torno dos 5 anos de idade, diante de uma ameaça do desconhecido, como o escuro. Na primeira experiência, o cérebro cria parâmetros para dar ao indivíduo essa função de proteção, levando muitas vezes à sua hipervalorização.
Os medos reais estão embasados em fatos. Enquanto os imaginários estão ligados a criações da nossa mente, que são suposições ou percepções que desenvolvemos porque alguém nos disse algo, por consumirmos informações de caráter negativo ou por sermos atingidos pelo que vemos ou lemos por aí.
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Faça um teste: assista a um filme de terror. Se uma cena começar a levá-lo a um estado emocional de pavor, explique para você mesmo na hora: tudo não passa de ficção, esse é um ator que está ganhando para fazer o filme. Racionalizando, o pavor vai embora ou diminui. O diálogo interno é capaz de organizar a emoção.
Mas também temos medo do que pode acontecer. Por exemplo, perder o emprego. Você se pergunta: tem motivo para isso? E a resposta: sim, não ou talvez. Se isso acontecer, o que eu vou fazer? Aí seu cérebro já cria um plano de ação com uma resposta: vou procurar outro trabalho ou abrir um negócio próprio.
Esse tipo de receio está conectado a uma ansiedade, que pode nos ajudar a prever soluções para problemas futuros. Não é raro, porém, que essa reação passe dos limites.
As respostas emocionais primitivas estão baseadas no sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático, responsável pelo mecanismo de luta e fuga. Assim, toda vez que você tem medo, principalmente quando ele é imaginário, precisa se fazer perguntas que conduzam a uma interpretação racional.
Em cinco segundos, tempo que a comunicação entre os neurônios precisa para você agir mais racionalmente e não reativamente, seu cérebro vai trazer umas 30 soluções ao cenário. É a partir daí que você adequa suas emoções e desenvolve um diálogo interno para resolver o que o aflige.
Quando você começa a se questionar de forma frequente, amplia a autopercepção, que é a capacidade de se perceber e de se ajustar para controlar as emoções. A consequência desse processo é o que chamamos de inteligência emocional.
Caso não consiga fazer isso sozinho, vale procurar a terapia. Uma vez que você aprimora essa técnica, minimiza as chances de sentir medos imaginários e aumenta as probabilidades de se sentir mais seguro.
* Anaclaudia Zani Ramos é psicóloga e especialista em neurociência e comportamento, com experiência na gestão de pessoas e psicologia jurídica na Delegacia da Mulher da cidade de São Paulo