Assistimos nos últimos meses a mais um aumento dos casos de Covid-19, o que não é inesperado, pois vamos conviver com este vírus por muito tempo e sempre teremos novas ondas.
Afinal, o Sars-Cov-2, causador da doença, está em constante mutação, tanto que numerosas variantes são rastreadas globalmente. Essas alterações podem ser monitoradas comparando diferenças nas manifestações clínicas, como maior resistência ao tratamento, ou alterações no código genético.
Ao estudar essas mudanças, os cientistas podem antever se uma variante é mais perigosa que outras, além de usar essas informações para rastrear sua propagação e reforçar medidas preventivas, sobretudo para os grupos de risco.
A atenção tem que ser redobrada em pacientes com doenças reumáticas, porque eles podem evoluir para casos mais graves de Covid-19.
Estudos atuais de registro em vários países da América Latina, incluindo o Brasil, e no mundo, apontam para o maior risco de complicações para indivíduos cuja doença está em atividade e os que estão em uso de medicamentos imunossupressores, como os corticoides.
Outra preocupação que tem atraído o olhar dos cientistas e reumatologistas é referente à suscetibilidade desse grupo à Covid longa. Nesse caso, um paciente reumatológico tende a enfrentar o ciclo do vírus (e suas repercussões) por um período maior do que o visto em pessoas sem nenhuma doença.
Vacina: ainda mais importante para quem tem doenças autoimunes
Hoje, circula predominantemente a variante Ômicron e suas derivadas.
Os vírus atuais sofreram mutações em um ambiente bem diferente das primeiras variantes, como Gama e Delta, que derivaram do vírus original. As variantes mais recentes foram selecionadas no cenário atual, que combina imunidade após a infecção, imunidade por vacina e exposição a antivirais.
Várias das novas mutações não foram declaradas como de preocupação pelos órgãos oficiais, mas de interesse, visto a “gravidade” cada vez menor, ou seja, elas provocam menos internações e óbitos. Este cenário está relacionado basicamente à imunidade híbrida da população, adquirida tanto pelas vacinas tomadas, quanto pelas infecções que ocorreram.
Só que nós não sabemos exatamente quanto tempo isso durará.
Indivíduos vulneráveis, como os pacientes com doenças reumáticas, ou não vacinados, ainda podem evoluir com gravidade, necessitando de hospitalização. Números oficiais são só ponta do iceberg. Como as testagens diminuíram, os números e indicadores que estamos vendo estão longe de refletir o cenário real.
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Por isso, a única armadura é a vacinação. É importante saber quantas doses foram tomadas e há quanto tempo. A vacina inicial foi desenhada para proteger da cepa original, que não circula mais.
Neste momento, o reforço com a vacina bivalente é o mais indicado, por ser a mais atualizada, com mais chances de proteger contra a variante que está circulando.
Atualmente, a imunização está à disposição de toda a população, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para pessoas com mais de 6 meses de vida. Maiores de 18 anos, que já tomaram ao menos duas doses da vacina, devem receber uma dose de reforço da vacina bivalente.
A partir de 2024, a imunização contra a Covid-19 será incluída no Calendário Nacional de Vacinação das crianças de 6 meses a menores de 5 anos. Além disso, grupos prioritários, como idosos e indivíduos imunocomprometidos, entre outros, irão receber anualmente uma nova dose do imunizante.
É fundamental que pacientes reumatológicos conversem com seus médicos especialistas e atualizem suas cadernetas de vacinação. Cada doença autoimune pode levar a uma manifestação diferente quando a pessoa contrai Covid-19. Consultar-se regularmente com um reumatologista e manter o esquema vacinal em dia é a principal recomendação para esse grupo.
* Gecilmara Salviato Pileggi, reumatologista, membro da Comissão de Reumatopediatria da Sociedade Paulista de Reumatologia, especialista em imunização em pacientes imunossuprimidos e membro da Comissão de Doenças Endêmicas e Infecciosas da Unidade de Pesquisa da Sociedade Brasileira de Reumatologia.