O assédio no trabalho é um problema significativo que afeta a saúde mental e física dos trabalhadores. Além do impacto psicológico, ele também está associado ao adoecimento físico. No caso específico das doenças cardíacas, estudos suficientes demonstram essa relação.
Pesquisas publicadas no European Heart Journal mostram que o bullying e a violência no local de trabalho elevam o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Esses comportamentos hostis criam um ambiente de estresse crônico, elevando os níveis de cortisol e adrenalina no corpo, substâncias que, em excesso, prejudicam o sistema cardiovascular.
Um estudo do Journal of the American Heart Association analisou dados de mais de 33.000 mulheres, demonstrando que aquelas que relataram assédio sexual ou moral no trabalho tinham uma propensão significativamente maior de desenvolver hipertensão.
As mulheres que sofreram ambos os tipos de assédio apresentaram um risco 21% maior, enquanto aquelas que sofreram apenas assédio moral ou assédio sexual apresentaram um risco 15% e 11% maior, respectivamente.
Além desse impacto direto na saúde física, a situação favorece o surgimento de depressão, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático. A combinação de estresse mental e físico pode ainda exacerbar problemas de saúde pré-existentes e dificultar a recuperação de doenças.
Problemas comportamentais e consequências negativas para a vida pessoal são outros efeitos do assédio . Essas repercussões, por sua vez, influenciam os adoecimentos físicos, especialmente os cardíacos, pois conflitos nos relacionamentos pessoais ocasionados por problemas no trabalho trazem uma carga considerável de estresse adicional.
Assédio moral: um problema do mundo e do Brasil
Nos Estados Unidos, estatísticas recentes mostram que 44% dos empregados continuam a enfrentar assédio no local de trabalho, com uma taxa alarmante de subnotificação. Menos de 50% dos casos de má conduta são formalmente reportados, e cerca de 70% dos que relatam assédio sofrem algum tipo de retaliação. Esses números destacam a necessidade urgente de medidas mais eficazes para prevenir e abordar o assédio no local de trabalho.
No Japão, em 2021, uma pesquisa revelou que aproximadamente 30% dos trabalhadores relataram ter sofrido com uma situação do tipo. O dado reflete uma cultura corporativa que muitas vezes negligencia o bem-estar dos empregados em prol da produtividade, resultando em altos níveis de estresse e problemas de saúde relacionados.
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 revelam que 11,8% das pessoas já sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho.
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A Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) destaca que o assédio moral é um fator importante de risco psicossocial, contribuindo para o desenvolvimento de diversas doenças ocupacionais, incluindo problemas cardiovasculares.
Em diversas publicações e eventos, a ANAMT tem ressaltado estes impactos negativos. No 17º Congresso Nacional da ANAMT, discutiu-se a relação com o desenvolvimento diversas doenças e destacou-se que a cobrança excessiva e a pressão psicológica são formas comuns de assédio que resultam em estresse crônico.
Há ainda uma lacuna na compreensão de como o fenômeno afeta diferentes grupos da sociedade. Por exemplo, a pesquisa do Journal of the American Heart Association focou principalmente em mulheres brancas não hispânicas, indicando a necessidade de estudos mais abrangentes, que incluam diversos grupos étnicos e raciais, para compreender todas as dimensões do problema.
O que as empresas podem fazer
Reconhecer o assédio no trabalho como um fator de risco para doenças cardiovasculares é essencial para a saúde pública. Ações coordenadas para prevení-lo e apoiar as vítimas podem melhorar significativamente a saúde e o bem-estar dos trabalhadores a longo prazo.
Criar ambientes corporativos seguros não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para a saúde pública. As empresas que adotam essas práticas protegem seus empregados e colhem os benefícios de uma força de trabalho mais saudável e produtiva.
É crucial que as empresas implementem políticas claras de prevenção ao assédio. Isso inclui treinamento adequado, a criação de canais seguros para denúncias e uma cultura organizacional que valorize o respeito e a dignidade.
Profissionais de saúde também devem estar atentos a sinais de assédio em seus pacientes, incluindo perguntas sobre experiências negativas durante consultas de rotina, especialmente ao tratar de problemas de saúde mental e cardiovascular. Em resumo, o assédio no trabalho é um fator de risco psicossocial significativo para doenças cardíacas, que merece mais atenção e ação de toda a sociedade.
*Luciana Veloso Baruki é auditora, advogada, médica pós-graduanda em Saúde Mental e Psiquiatria, administradora de empresas e fundadora do perfil @assedionet nas redes sociais