Consequência natural da idade, a catarata é identificada quando o cristalino – uma espécie de lente natural do olho – fica opaco e duro, perdendo a transparência. Os principais sintomas vão de visão embaçada, perda de foco e dificuldade para enxergar cores com baixo contraste a uma sensação de neblina nos olhos. Surgem de maneira gradual, podendo se manifestar em diferentes intensidades e progredir de acordo com cada pessoa.
A doença acomete, geralmente, pessoas a partir dos 60 anos de idade. Mas vale ponderar que não é somente esse público que pode ser diagnosticado com catarata. Ela chega a aparecer inclusive entre os recém-nascidos – e é identificada por meio do conhecido teste do olhinho, realizado logo após o nascimento do bebê. De maneira menos comum também ocorre entre pessoas de 40 e 50 anos devido ao excesso de exposição ao sol sem proteção, por exemplo.
Embora não seja possível prevenir ou lançar mão de remédios contra o problema, a boa notícia é que a catarata tem cirurgia e os resultados são excelentes. A operação é segura, rápida e eficaz. No procedimento, fazemos a substituição do cristalino por uma lente artificial intraocular, que recupera a visão até mesmo nos casos em que a doença cegou por completo o indivíduo.
Sim, a catarata é a principal causa da cegueira reversível no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 20 milhões de pessoas cegas em função dela no mundo hoje. Até 2020, a prevalência da doença pode ultrapassar 32 milhões de pessoas.
A cirurgia de catarata é o procedimento do gênero mais realizado no mundo dentre todas as especialidades. Metodologias, dispositivos, equipamentos e lentes intraoculares estão em constante evolução para auxiliar o cirurgião no processo e proporcionar ao paciente o melhor resultado possível.
História antiga e em constante progresso
O registro mais antigo de método para remoção da catarata data de 600 antes de Cristo. Mas somente em 1747 é que aconteceria o grande marco na área: a primeira extração de catarata extracapsular com uma incisão inferior. Nessa época, não eram realizados cortes e a cicatrização se dava de forma espontânea.
Finalmente, em 1967, o cirurgião americano Charles Kelman desenvolve a técnica de facoemulsificação, a mais utilizada atualmente, que consiste na destruição do cristalino opaco com o uso de energia ultrassônica e a aspiração dos fluidos restantes.
Essa técnica permite que o médico retire a catarata por uma incisão minúscula (apenas 2,75 milímetros) na córnea, que também é utilizada para inserir a lente intraocular. Hoje essa lente é dobrável e permite que sua introdução seja feita sem ter de aumentar o corte. Pela rapidez do procedimento, também menos invasivo atualmente, os pacientes são liberados em geral no mesmo dia, podendo estar de volta às suas atividades habituais em pouquíssimo tempo.
Além disso, graças à inovação na oftalmologia – uma das áreas que mais acompanham o avanço tecnológico – já é possível escolher o tipo mais adequado de lente para cada situação, perfil e necessidade do paciente. O mercado vem buscando o aprimoramento das diferentes soluções e, atualmente, há lentes com clareza inigualável e redução de reflexos. Há também lentes intraoculares com design capaz de diminuir complicações comuns, como a opacificação da cápsula posterior, que pode tornar a visão turva ou embaçada no longo prazo.
Outra possibilidade é aproveitar a cirurgia de catarata para corrigir problemas de visão como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia (a conhecida “vista cansada”). Para tanto, há outros diferentes tipos de lentes, o que faz com que o procedimento seja cada vez mais individualizado para melhorar a qualidade de vida do paciente.
Imagine depois de anos usando os óculos, por exemplo, poder voltar a enxergar o mundo de forma clara novamente? Pois é isso que a cirurgia de catarata com correção de erros refrativos – como são chamados astigmatismo, miopia etc – é capaz de proporcionar. Há, inclusive, lentes intraoculares que corrigem presbiopia e astigmatismo, ao mesmo tempo em que tratam a catarata.
A tecnologia mudou por completo a oftalmologia. E, bem aqui, no Brasil, já é possível ter acesso ao que há de mais avançado em termos de tratamentos e dispositivos voltados à saúde ocular. Para catarata é certo que, com as últimas novidades, chegamos ao estado da arte no que diz respeito às técnicas cirúrgicas e à resolução do problema. Médicos operam melhor e mais rápido hoje. E os pacientes, com mais segurança e melhores resultados, ficam cada vez mais satisfeitos.
* Dr. Armando Crema é cirurgião oftalmologista, doutor em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) e da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares (SBCII)