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A produção farmacêutica local é essencial para a saúde global

Sub-secretária geral da ONU aponta a necessidade de mudar a lógica de fabricação de medicamentos para reduzir desigualdades no acesso a tratamentos

Por Winnie Byanyima, diretora executiva do Unaids e sub-secretária geral da ONU*
2 jun 2024, 10h51
desigualdade câncer brasil
A desigualdade no acesso a medicamentos e vacina tem um preço alto: o de vidas humanas (Ilustração: Kanioko/SAÚDE é Vital)
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À medida que a pandemia de Covid-19 atingia seu pico, pessoas em toda a América Latina e no Sul Global observavam com horror como os países do Norte Global e as empresas farmacêuticas proprietárias das vacinas não as estavam produzindo nas quantidades necessárias para o mundo.

Populações inteiras na América Latina e no Sul Global foram empurradas para o fim da fila. Pior ainda, as empresas recusaram pedidos para compartilhar a tecnologia que teria permitido aos países do Sul Global produzir suas próprias vacinas.

+ Leia também: Ann Lindstrand, da OMS: “Ninguém está seguro até todos estarmos seguros”

O dano mortal causado pela retenção de tecnologia capaz de salvar vidas levou a pelo menos uma morte a cada 24 segundos em 2021. Isto estava longe de ser algo imprevisto. Pelo contrário, era totalmente previsível, na medida em que era uma repetição das injustiças que já havíamos assistido na pandemia da aids.

No final da década de 1990 e início dos anos 2000, cerca de 12 milhões de pessoas no Sul Global morreram porque os medicamentos que salvam vidas ao controlar a infecção pelo HIV eram pouco disponíveis ou completamente inacessíveis para elas.

Depois do que as pandemias de aids e Covid-19 nos ensinaram, o mundo não pode se dar ao luxo de repetir novamente o mesmo erro. Porém, a menos que as lideranças mudem a forma como os produtos de saúde são produzidos e distribuídos, é isso que acontecerá.

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É certo que haverá outras pandemias. Quando exatamente virão, não sabemos, mas podem estar na esquina. E o nosso mundo cada vez mais interconectado fica ainda mais vulnerável a pandemias devido às desigualdades gritantes.

Quando se permite que agentes infecciosos proliferem em diferentes partes do mundo, o resultado frequentemente são variantes ainda mais perigosas, que intensificam e prolongam as pandemias.

As lideranças globais precisam agir rápido para consertar o sistema profundamente ineficaz e injusto que está por trás do desenvolvimento e implantação de novos medicamentos, vacinas e outras tecnologias de saúde necessárias para combater doenças negligenciadas e as pandemias de hoje e de amanhã.

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Felizmente, o Brasil, como presidente do G20 em 2024, está liderando uma iniciativa para fazer exatamente isso. O governo brasileiro está chamando para a criação de uma aliança que ajudará o mundo a implementar uma maneira melhor e mais justa de desenvolver e produzir tecnologias de saúde, como vacinas e medicamentos.

Esta aliança facilitaria o estabelecimento de uma rede diversificada de produtores locais e regionais de tecnologias de saúde para garantir um fornecimento adequado para todas as pessoas, em todos os lugares, rompendo a escassez e a desigualdade que prejudicaram as respostas anteriores às pandemias globais.

Tenho o prazer de ir a Salvador, Brasil, na primeira semana de junho, na reunião do Grupo de Trabalho sobre Saúde do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo), a fim de apoiar os esforços do presidente Lula para dar início a esse nobre esforço.

Como Diretora-Executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), participarei de uma reunião dos governos do G20 para discutir a aliança proposta.

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Desde a perspectiva das Nações Unidas, entendemos como essencial que haja um esforço coordenado para fortalecer a produção farmacêutica local e regional para o mundo vencer a luta contra as pandemias.

A resposta à aids se beneficiaria muito com esta iniciativa. Diversificar a produção de produtos de saúde para diagnosticar, prevenir e tratar o HIV – e suas coinfecções e comorbidades associadas – é urgente. O HIV é uma grande preocupação pública em muitos países de baixa e média renda.

Permitir que pessoas em todos os lugares acessem toda a gama de opções de prevenção e tratamento do HIV, incluindo as tecnologias de ação prolongada mais recentes, é vital para garantir o fim da aids como uma ameaça à saúde pública até 2030.

A aliança pode desempenhar um papel fundamental para atingir esse objetivo de forma sustentável, ao mesmo tempo em que apoiaria o estabelecimento da capacidade de desenvolvimento e produção de medicamentos, que precisa estar implementada para responder rapidamente às próximas pandemias.

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Ao garantir a fabricação local em todo o mundo, as lideranças globais podem mitigar os riscos de interrupção do fornecimento, aumentar a segurança da saúde e fortalecer a preparação global para pandemias.

+ Leia também: HIV: por que as complicações da aids ainda causam tantas mortes no Brasil?

O Brasil está estrategicamente posicionado para liderar esse esforço global, porque há décadas vem apoiando as pessoas que vivem com HIV. O fornecimento universal pioneiro de medicamentos para o HIV pelo SUS demonstra a eficácia das políticas de saúde inclusivas.

A experiência brasileira também mostra como os benefícios da produção farmacêutica local e regional vão além da saúde pública. Como o setor farmacêutico pode atestar, o trabalho da aliança estimularia o crescimento econômico e o avanço tecnológico nos países participantes.

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A construção de capacidades locais de fabricação de produtos farmacológicos cria empregos, aprimora as habilidades técnicas e fomenta a inovação. Isso, por sua vez, pode impulsionar o desenvolvimento econômico mais amplo e contribuir para o bem-estar geral das sociedades.

Como presidente do G20, o Brasil está compartilhando sua experiência impressionante com os outros países. A reunião do Grupo de Trabalho sobre Saúde, em Salvador, apresenta uma oportunidade única para alinhar os esforços globais em direção a um objetivo comum: garantir que medicamentos que salvam vidas e outras tecnologias de saúde sejam acessíveis a todas as pessoas, independentemente de onde vivam ou de suas origens sociais.

A escassez e a desigualdade que prejudicaram as respostas à aids e à COVID-19 não são inevitáveis. Ao atuar em conjunto, podemos construir a infraestrutura global necessária para acabar com a aids como uma ameaça à saúde pública e garantir que o mundo possa vencer a próxima pandemia.

*Winnie Byanyima, diretora executiva do Unaids e sub-secretária geral da Organização das Nações Unidas (ONU)

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