O senso comum diria que os jovens são as pessoas mais sexualmente ativas da sociedade. Mas será que é verdade? Estudos recentes mostram que eles têm feito cada vez menos sexo — principalmente os homens.
Pesquisadores estudaram a frequência de relações sexuais nos Estados Unidos de 2000 a 2018 entre adultos de diversas idades. Para surpresa deles (e a nossa), 30% dos homens de 18 a 24 anos não haviam tido nenhuma relação no último ano — 20 anos atrás, essa taxa era 19%. E mais: o número de jovens que não faziam sexo era o dobro daquele visto em qualquer outra faixa etária.
Entre as mulheres, algo semelhante aconteceu, mas com menor intensidade: 19% das mais jovens não tiveram relações no último ano, uma taxa que era de 15% no começo do milênio.
E no Brasil? Por aqui parecemos estar no mesmo caminho. Uma pesquisa feita pelo Datafolha com mais de 1 800 homens no ano passado mostra dados igualmente surpreendentes. Dos jovens de 18 a 24 anos, 24% não tiveram relações nos últimos dois anos — mais que o dobro do encontrado nas outras faixas etárias.
A pesquisa também revela outros quadros preocupantes: 38% dos homens de até 35 anos tinham algum grau de impotência — uma proporção muito elevada para uma população tão jovem. Nesse aspecto, estamos num patamar semelhante a outros países, em que a taxa nos jovens é próxima a 30%.
Nesses casos, a origem da impotência costuma estar ligada a fatores psicológicos — e pessoas com menos acesso a informação e com maior dificuldade em iniciar a vida sexual são as mais vulneráveis.
As explicações para esse distanciamento dos jovens em relação ao sexo são diversas. Alguns psicólogos apontam uma tendência a postergar cada vez mais a transição para a fase adulta. Outros acreditam que é um reflexo da maior conectividade e o interesse cada vez maior pelo mundo virtual, enfraquecendo o interesse e o tempo dedicado às relações off-line.
Nesse contexto, a oferta de entretenimento diversificado diminui a importância relativa do sexo. Outro possível culpado é o acesso compulsivo à pornografia, que cria uma geração de pessoas complexadas buscando padrões inatingíveis e comportamentos questionáveis, tanto para homens como para mulheres.
No Brasil, porém, outro componente pode contribuir. A taxa de jovens sexualmente inativos no país é maior nos municípios menores, entre os menos escolarizados e com menor renda — justamente os menos conectados. Nessa circunstância, o baixo acesso à informação sobre sexualidade e o avanço de uma pauta de costumes conservadora podem ter afastado os jovens do sexo.
Ainda não sabemos qual vai ser o efeito desse comportamento no longo prazo para essa geração. Quem sabe seu interesse pelo sexo apareça mais tarde, ou talvez sejam pessoas que vivam felizes tendo menos sexo na sua rotina mesmo.
No entanto, cientes da importância do sexo na vida adulta e de olho nessa taxa alarmante de disfunção erétil entre os jovens, precisamos ligar o alerta sobre a saúde sexual dessa geração agora.
* João Brunhara é urologista, médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e consultor científico da Omens, plataforma que trata problemas de saúde sexual masculina