Estima-se que de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva tenham endometriose. A doença é caracterizada pela implantação do endométrio (o tecido que reveste o útero internamente) fora do útero, instalando-se sobre o peritônio (membrana que reveste o abdome) ou sobre órgãos pélvicos, como vagina, bexiga, intestino e áreas externas do útero e colo uterino. Dores intensas, principalmente no período menstrual, infertilidade e desconforto na relação sexual (dispaurenia) são importantes sinais da condição.
Segundo o Prof. Dr. Sérgio Podgaec que, além de vice-presidente do Einstein, é um ginecologista envolvido em diversos estudos sobre endometriose, cerca de 90% das mulheres com esse problema sentem cólicas menstruais. De 30% a 40% têm dificuldade para engravidar.
A boa notícia é que a maior parte dos casos pode ser tratada sem cirurgia. A administração de hormônios e analgésicos melhora a dor em cerca de 70% das pacientes. A cirurgia fica reservada a quadros mais graves, quando a dor persiste ou, em algumas situações, onde há dificuldade para engravidar.
Além disso, é importante citar que há mulheres com endometriose que não apresentam sintomas. Ou seja, elas podem não precisar de tratamento – apenas de um seguimento clínico e, eventualmente, de exames de imagem, quando indicados.
Os avanços na ultrassonografia pélvica e transvaginal e a ressonância magnética da pelve, ambas com preparo intestinal prévio, têm contribuído para aumentar o número e a qualidade do diagnóstico da doença. No entanto, é fundamental que esses exames sejam realizados por radiologistas experientes na avaliação da endometriose.
De qualquer forma, vale ressaltar: não são apenas os achados no exame de imagem que indicam o tratamento. O quadro clínico, que pode ter impacto na qualidade de vida da mulher, é muito relevante nesse sentido.
Quando indicado, o procedimento cirúrgico é preferencialmente realizado por videolaparoscopia. Mas a remoção dos nódulos de endometriose pode ser uma cirurgia delicada, envolvendo tecido duro e fibroso que não necessariamente respeita limites entre um órgão e outro. Por isso, a abordagem tende a ser multidisciplinar, muitas vezes com a participação de ginecologista, urologista, cirurgião do aparelho digestivo e outros especialistas.
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A medicina ainda tenta desvendar o que causa a endometriose. A teoria mais aceita, formulada há quase 100 anos, associa a doença à menstruação retrógrada – a parte do fluxo menstrual (sangue e tecido endometrial) que, em vez de sair apenas pela vagina, reflui para dentro da cavidade abdominal. Com isso, as células do endométrio conseguem se instalar em outros locais, gerando a doença.
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Acontece que quase todas as mulheres têm menstruação retrógrada. Então por que a doença ocorreria em algumas e não em outras? Ora, porque há outros fatores envolvidos, como os hereditários, hormonais e imunológicos. Estes últimos, aliás, são foco de uma extensa linha de pesquisa em andamento no Einstein.
Estudos podem nos levar a entender melhor o que causa a doença, outras formas de tratá-la e até de preveni-la. Por enquanto, é importante usar os conhecimentos que temos para fazer a escolha certa: tratamento clínico sempre que possível e cirurgia apenas quando ela é realmente necessária.