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A ‘epidemia’ de Parkinson

Doença é a condição neurodegenerativa que mais cresce no mundo, e de maneira acelerada

Por Sidney Klajner
Atualizado em 4 jun 2024, 11h45 - Publicado em 4 jun 2024, 11h39

Depois do Alzheimer, o Parkinson é a doença neurodegenerativa mais comum. No entanto, é a que mais cresce no mundo. 

Estima-se que ela afete atualmente cerca de 10 milhões de pessoas globalmente, e que esse número dobrará até 2050. Caracterizada pela degeneração crônica e progressiva do sistema nervoso, impactando principalmente as funções motoras, a doença é mais prevalente entre os idosos.

Contudo, o ritmo de aumento de casos observado já há algumas décadas independe da maior longevidade da população. Ou seja, mesmo que não houvesse tantas pessoas ficando cada vez mais velhas em várias regiões do globo, a prevalência do Parkinson estaria subindo. 

Seria possível frear esse ritmo? Sim, atuando nos aspectos que podemos modificar para tentar prevenir a doença. Segundo o Dr. Rubens Cury, neurologista do Einstein especialista em Parkinson, diversas pesquisas científicas apontam fatores de risco passíveis da intervenção humana, quase todos associados a aspectos ambientais.

Eles funcionam como gatilhos que podem acionar um fator de risco não modificável: a predisposição genética, que aumenta as chances de desenvolvimento da doença. 

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Fatores de risco modificáveis

A poluição explicaria a emergência do Parkinson ainda na Revolução Industrial nos países europeus do século 19 e, agora, nos países mais afetados por poluentes atmosféricos, como a China hiperindustrializada, onde estão 23% dos atuais portadores da doença.

Solventes para remoção de tintas, como o tricloroetileno, e defensivos agrícolas (pesticidas) são outros vilões comprovados por trabalhos publicados em prestigiadas revistas científicas. Todos eles afetam a chamada “substância negra” do cérebro, região produtora da dopamina, neurotransmissor que atua como um combustível que alimenta nosso sistema nervoso.

A gradativa perda de dopamina é o que coloca a doença de Parkinson em marcha, com sintomas como tremores e lentificação dos movimentos, que vão se tornando incapacitantes.

Sabe-se hoje que a doença pode dar seus primeiros sinais a partir de dois diferentes pontos do corpo: o bulbo olfativo (perda do olfato) ou o intestino (constipações constantes), justamente as áreas expostas a esses agentes nocivos – poluição e solventes que entram pelas vias aéreas e pesticidas consumidos junto com os alimentos.

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+ Leia também: Doença de Parkinson: o que é e quais seus tratamentos e sintomas

Portanto, a prevenção da doença de Parkinson exige políticas ambientais direcionadas a controlar ou eliminar a emissão dos agentes nocivos à saúde humana, como já acontece em alguns países desenvolvidos que passaram a controlar de maneira mais efetiva os pesticidas, solventes e outros elementos poluentes comprovadamente perigosos.

Do ponto de vista do indivíduo, é importante a adoção de um estilo de vida saudável, baseado na combinação de atividade física regular e uma dieta rica em fibras, grãos, carnes brancas e castanhas. Recomenda-se também o consumo de flavonoides, substâncias antioxidantes encontradas em alimentos como frutas vermelhas (morango, framboesa, mirtilo, etc), chás, maçã, cebola, uva, brócolis, chicória e aipo.

O autocuidado ficará completo com medidas para manter bons níveis de pressão arterial, de colesterol e glicose do sangue. 

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Sem cura, mas com controle

O Parkinson ainda não tem cura, mas a ciência vem conseguindo controlar melhor a doença. O tratamento básico é a reposição de dopamina por meio de um medicamento chamado levodopa, que pode ser combinado com outras medicações, além de recursos como fisioterapia e fonoaudiologia, visando aplacar sintomas e oferecer melhor qualidade de vida ao paciente.

Uma novidade que está em aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a bomba de infusão subcutânea de levodopa, que possibilita a administração contínua do medicamento em versão líquida.

Estudos indicam que essa tecnologia diminui o tempo das flutuações motoras da doença, isto é, as oscilações entre os intervalos de tempo em que a levodopa age satisfatoriamente no organismo e quando isso não acontece e os sintomas voltam.

Como observa o Dr. Rubens, outras alternativas vêm ampliando os recursos de tratamento. É o caso da estimulação cerebral profunda (conhecida pela sigla DBS, do inglês Deep Brain Stimulation), uma cirurgia em que é instalado uma espécie de marca-passo em regiões do cérebro afetadas pela doença para a emissão de pulsos elétricos de alta frequência, que ajudam a controlar os sintomas.

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Indicado para pacientes selecionados que já não respondem adequadamente à levodopa, esse procedimento é feito há alguns anos no Centro de Estimulação Cerebral Profunda do Einstein.

+ Leia também: App para quem tem Parkinson (e um novo marcador da doença)

Novidades no horizonte

Outro recurso, este disponível por enquanto apenas em alguns centros médicos do exterior, é o ultrassom transcraniano focalizado de alta intensidade HIFU, que age em regiões profundas do cérebro.

Sem cortes ou necessidade de anestesia, o paciente é colocado em uma máquina de ressonância magnética por cerca de 40 minutos, utilizando uma espécie de capacete, responsável pela emissão das ondas de ultrassom. Os pontos-alvo são identificados com precisão graças ao auxílio da tecnologia de ressonância. 

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Além disso, seguem em andamento estudos clínicos sobre um medicamento da classe de agonistas GLP-1, atualmente usado no tratamento de diabetes (como a semaglutida, presente no Ozempic e Wegovy), cuja aplicabilidade para o Parkinson parece promissora; e outro sobre o ambroxol, remédio que aumenta a produção da enzima GBA, substância em déficit no portador da doença.

Há, ainda, pesquisas com terapias baseadas no uso de anticorpos monoclonais para agir sobre as proteínas envolvidas no processo de destruição da dopamina. 

São tantos possíveis novos horizontes para o tratamento do Parkinson. No entanto, o horizonte que precisa ser desbravado com firmeza é o do enfrentamento dos fatores de risco evitáveis, com políticas públicas para combater poluição e o uso de produtos químicos sabidamente associados à doença.

Esse é o caminho para que as projeções ‘epidêmicas’ do Parkinson não se concretizem. Novos tratamentos são bem-vindos, mas igualmente bem-vindas serão medidas para prevenir a doença.

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