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A controvérsia da reinfecção por Covid-19

Um especialista discute o conceito de reinfecção pelo coronavírus e o impacto desse fenômeno na pandemia e na vacinação

Por Helio Magarinos Torres Filho, patologista*
5 jan 2021, 18h08
Foto de várias máscaras, que evitam reinfecção por Covid-19
O uso de máscaras segue importante mesmo após se curar da Covid-19. (Foto: De an Sun/SAÚDE é Vital)
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Nas últimas semanas, têm surgido notícias sobre casos de reinfecção pelo Sars-CoV-2, o vírus responsável pela Covid-19. Eu acredito que devemos analisar com cuidado essas informações e não tirarmos conclusões precipitadas, que possam gerar dúvidas até quanto à eficácia da vacinação.

Em primeiro lugar, cabe aqui uma melhor interpretação dos resultados dos testes para a detecção do novo coronavírus. O exame utilizado para definir a infecção ativa é o RT-PCR, feito pela coleta de amostras da nasofaringe. O que esse teste nos diz?

Ele indica a presença de material viral (fragmentos genéticos dele) na nasofaringe — nada além disso. O diagnóstico de infecção deve ser feito confrontando o resultado do exame com os dados clínicos. Hoje, sabemos que algumas pessoas, apesar do resultado positivo para a presença do coronavírus na sua nasofaringe, não desenvolvem qualquer tipo de sintomas. Outras podem apresentar sintomas leves, como dor de cabeça, espirros e coriza, semelhantes a uma gripe branda ou a um resfriado, com ou sem pedra de paladar e/ou do olfato. E sabemos também que, em uma proporção significativa dessas pessoas, não ocorre a formação dos anticorpos, responsáveis por um dos mecanismos de defesa que protegem contra uma segunda infecção.

Então, quando se fala em reinfecção, muitas vezes se trata de um caso em que o paciente não teve sintomas, ou os manifestou de forma leve na primeira ocasião. Esses episódios devem ser distinguidos daqueles em que houve o desenvolvimento de sintomas mais fortes, como febre, cansaço, dor muscular, comprometimento dos pulmões etc.

Ou seja, antes de falar em reinfecção, é preciso determinar a presença de anticorpos entre a primeira e a segunda infecção. Ora, isso mostraria se o paciente tem ou não essa linha de defesa contra uma eventual segunda ofensiva do Sars-CoV-2. Vale lembrar que os melhores testes para a pesquisa de anticorpos são aqueles feitos em laboratório, com sangue coletado das veias (chamados por aí de “sorologia”). Eles são diferentes dos testes rápidos.

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Acredito que só deveríamos considerar como casos de reinfecção aqueles nos quais houve o desenvolvimento de sintomas típicos em ambas as ocasiões. Ora, nos indivíduos assintomáticos ou com sintomas muito leves, provavelmente não houve a ativação completa dos mecanismos de defesa.

Vale ainda ressaltar que esse tipo de ocorrência não tem nada a ver com a vacinação. As vacinas são confeccionadas para que justamente haja a produção de anticorpos através de estímulos dos nossos mecanismos de defesa.

Então o fato de que algumas pessoas podem não produzir anticorpos durante o primeiro episódio de contato com o vírus não significa, em absoluto, que uma vacina não venha a funcionar. A maioria dos imunizantes em destaque na mídia tiveram a sua eficácia comprovada em uma grande quantidade de pessoas, através de ensaios clínicos.

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Como complemento, lembro que os casos devidamente confirmados de reinfecção são ainda estatisticamente insignificantes frente ao universo de pessoas que pegaram o coronavírus. Temos, sim, que continuar a seguir todas as regras de distanciamento e proteção individual, também para aqueles que adquiriram a doença. Mas não podemos deixar que isso nos leve a situações de maior pânico ou de interpretações equivocadas, colocando em dúvida a eficácia das vacinas.

*Helio Magarinos Torres Filho é patologista e diretor medico do Laboratório Richet

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