Alguns comportamentos parecem, mas não são. Outros não parecem, mas são. Enfrentar as agressões físicas e verbais do bullying pode se transformar num jogo de encaixar peças, que requer a participação das crianças, dos pais e da escola. De olho nisso, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um guia para dar os caminhos da prevenção e do controle desse problema.
Em primeiro lugar, vale dizer que o bullying se caracteriza pela repetição de atitudes agressivas e de intimidação entre estudantes. Uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de países que mais abrigam esse comportamento.
Para ter ideia, 43% das crianças e dos jovens estão passando por apuros do tipo. Essa hostilidade tem impacto na saúde mental de todos os envolvidos, sobretudo das vítimas. Mas não há só um tipo de bullying, não. A seguir, conheça as diferentes versões do problema.
Os 8 tipos de bullying
1- Físico
Inclui beliscões, socos, chutes, empurrões e afins. Aproximadamente 3% dos mais jovens pelo mundo passam por ele.
2- Verbal
É o mais comum: relatado por 13% dos estudantes. É composto de apelidos, xingamentos e provocações.
3- Escrito
Quando bilhetes, cartas, pichações, cartazes, faixas e desenhos depreciativos são usados para atacar os colegas.
4- Material
Ter seus pertences danificados, furtados ou atirados contra si faz parte da rotina de cerca de 5% das vítimas.
5- Cyberbullying
A agressão se dá por meios digitais, como e-mail, fotos, vídeos e posts e, em pouco tempo, alcança muita gente. Devido à sua rápida disseminação, hoje a ofensa online chega a ser mais impactante nos círculos escolares.
6- Moral
A tática aqui é difamar, intimidar ou caluniar imitando ou usando trejeitos próprios do alvo como armas.
7- Social
Criar rumores, ignorar, fazer pouco caso, excluir ou incentivar a exclusão com objetivo de humilhar estão entre as artimanhas.
8- Psicológico
Todos os tipos têm um componente que afeta a saúde mental, mas aqui se destaca a pressão na psique induzida por diversos meios.
Os protagonistas
Até quem fica de fora, só olhando o bullying acontecer, tem papel nessa história. Veja:
Espectador
O silêncio ou as risadas dos que estão em volta reforçam, ainda que sem intenção, ataques físicos ou verbais. Muitas vezes, essa conduta é fruto do medo de se tornar o próximo alvo.
O clima de insegurança também é prejudicial para quem está na plateia. Por outro lado, seu suporte ajuda a frustrar o bullying e coibir ações semelhantes. Afinal, quando as pessoas ao redor deixam de apoiar o bullying, o autor tende a ficar sozinho e parar de constranger os alvos.
Alvo
As marcas da perseguição podem ser tão profundas em quem está no olho do furacão que os traumas reverberam para o resto da vida. Diante da coação, alguns se manifestam de forma insegura e não se defendem.
Outros mostram um temperamento mais exaltado e revidam. Tem gente que se sente culpada por sofrer, enquanto outros descontam a frustração nos colegas.
Autor
No bullying, o autor sabe que sua ação poderá machucar o outro, mas faz mesmo assim, sem pesar consequências. Tanto quanto o alvo, quem pratica o bullying precisa de atenção e, em alguns casos, tratamento.
O autor também apresenta um risco maior de desenvolver adversidades mentais. É importante buscar respostas sobre a origem do comportamento hostil. Baixa autoestima e depressão podem ser tanto causa como consequência do bullying.
Fontes: Joel Conceição Bressa da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria; Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, psicóloga e professora da Universidade Federal de São Carlos; Maria Isabel da Silva Leme, psicóloga do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; Cléo Fante, pedagoga especialista em bullying (SP)