Uma pesquisa encomendada pela farmacêutica Bristol-Myers Squibb para o Instituto Datafolha mostra que 76% das pessoas nunca conversaram sobre câncer de pulmão com o seu médico. Foram ouvidos 2 044 homens e mulheres em 130 municípios do país em março deste ano.
O achado é particularmente revelador se levarmos em conta que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o tumor de pulmão é o que causa mais mortes no sexo masculino. Já no sexo feminino, é o segundo mais mortal. Para ter ideia, durante a pesquisa, 27% dos respondentes afirmaram conhecer alguém que tem ou teve a doença.
Na investigação, também chamou a atenção o fato de que 17% dos entrevistados não sabem o que fazer para reduzir a probabilidade de encarar o mal. “A medida mais importante é evitar o tabagismo, principal fator de risco em 90% dos casos de câncer de pulmão”, aponta Marcelo Cruz, membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado Pela Vida e oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo. “Hábitos de vida saudáveis, como boa alimentação e atividade física regular, são sempre essenciais”, completa.
Ao serem questionados sobre o fumo passivo, 49% dos participantes da pesquisa responderam que consideram essa situação perigosa em termos de câncer nos pulmões. “Essa número deveria ser de 100%”, afirma Cruz. “O fumo não só incomoda como faz muito mal à saúde de não-fumantes”, frisa o oncologista.
Ele lembra, porém, que há outros fatores capazes de contribuir para o surgimento da doença. É o caso da exposição ao gás radônio, um produto liberado do solo e de rochas presentes em regiões ricas em urânio. “Em 2005, a Organização Mundial da Saúde reconheceu o radônio como fator de risco para o câncer de pulmão. Desde então, diversos países realizam trabalhos para identificar áreas em que ocorra exposição a esse gás”, conta. Outro elemento bastante estudado é a poluição ambiental — ela inclui não só gases tóxicos vindos de carros ou indústrias como também os produzidos pela queima de lenha.
Mas, vale lembrar, o cigarro é realmente o maior perigo. “Há uma relação clara entre tempo e quantidade de cigarros consumidos por ano de vida e risco de câncer. Quanto mais, pior”, crava o médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ele avisa ainda que não há limite seguro nesse sentido. “Ter câncer ou algum problema de saúde grave relacionado ao tabagismo não é questão de sorte ou azar. É questão de tempo. Uma hora algo muito ruim vai acontecer”, garante Cruz.
No rastro do tumor de pulmão
Os sinais mais comuns associados ao câncer no órgão são tosse seca que não melhora, sangue no escarro, falta de ar e emagrecimento sem causa aparente. Porém, eles demoram a aparecer. “E, quando surgem, geralmente é sinal de que a doença já se espalhou para outros órgãos”, explica Marcelo Cruz. Infelizmente, essa situação é observada entre 80% dos pacientes – ou seja, quando descobrem o problema, ele já está em estado avançado, com baixíssima chance de cura.
Para flagrá-lo antes disso, o médico conta que os programas de detecção precoce recomendam a realização de tomografia de tórax anual em pessoas com risco de encarar esse tumor. Isto é: fumantes e ex-fumantes a partir dos 50 ou 55 anos de idade. E nunca é demais repetir: estamos falando de uma doença grave, porém extremamente passível de prevenção. “O tabagismo, responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão, pode ser evitado e tratado”, finaliza Cruz.