A calvície não é uma questão só de estética. Embora na maioria dos casos de fato não sinalize problemas maiores, é possível que a queda de cabelo seja consequência de outras doenças. Daí porque o dermatologista Matthew Harries, consultor da instituição britânica Salford Royal NHS Foundation Trust, publicou um artigo científico chamado “Alopecia na medicina”.
No levantamento, ele destaca as causas da perda de fios capilares e deixa claro: toda calvície merece uma investigação. Em entrevista a SAÚDE, Harries explicou a importância de ficarmos atentos ao próprio couro cabeludo e revelou algumas das principais enfermidades que fazem as madeixas rarearem. Confira abaixo:
SAÚDE: Qual o maior objetivo do artigo científico que o senhor publicou?
Matthews Harries: Ele foi feito para ficarmos mais atentos à queda de cabelo em pacientes no hospital. A perda de cabelo é frequentemente dispensada pelos médicos, sob a alegação de ser um problema cosmético. No entanto, nós mostramos que o sintoma pode ser o primeiro sinal de várias doenças de base ou mesmo um importante efeito colateral de tratamentos medicamentosos. Também destacamos o forte impacto psicológico provocado pela calvície.
Quais as principais condições sistêmicas que provocam queda de cabelo?
Em pessoas com perda geral de cabelo, várias possíveis causas precisam ser verificadas, incluindo problemas de tireoide, deficiências nutricionais e de ferro, uso de certas medicações e por aí vai. Uma avaliação clínica e exames de sangue são importantes nessa situação. Mulheres que com uma calvície mais associada aos homens [calvície androgenética], especialmente se também apresentam crescimento anormal de pelos corporais, menstruação irregular e acne, podem ter uma disfunção hormonal.
A perda de cabelo pode ser um dos primeiros sinais notados de uma determinada doença?
Sim. Certos tipos de calvície pedem uma avaliação inicial para verificar isso. Esses testes dão pistas que, se necessário, vão exigir mais exames. Por exemplo: alguém apresenta uma queda de cabelo difusa. Ao fazer um teste sanguíneo, identifica-se uma deficiência de ferro. Aí, é necessário realizar outros exames, como uma colonoscopia ou endoscopia, para identificar a origem da carência do mineral.
Algumas evidências apontam que o diabete e a obesidade estariam associadas com queda de cabelo. Isso confere?
Diferentes tipos de calvície podem afetar os diabéticos. A chamada alopecia areata [uma condição em que o sistema imune da própria pessoa agride o couro cabeludo] é vista com mais frequência nessa população. E também já está bem reconhecido que o emagrecimento melhora as manifestações do hiperandrogenismo em mulheres obesas, o que amenizaria a calvície androgenética.
Calvícies autoimunes pode aumentar o risco de outras doenças?
Pessoas com alopecias autoimunes estão mais sujeitas a desenvolver outras condições autoimunes, como problemas de tireoide e vitiligo.