A função de cuidar de alguém doente em casa pode cair no colo da família, já que nem sempre há condições de contratar um enfermeiro. O problema é que, por colocarem o indivíduo debilitado em primeiro lugar, os cuidadores não profissionais tendem a deixar a própria saúde um pouco de lado. Pensando nisso, a farmacêutica Merck criou a iniciativa Embracing Careers, que acaba de chegar ao Brasil – primeiro país da América Latina a receber o projeto.
Como parte dele, foi realizada uma pesquisa em nosso país para verificar a saúde desse pessoal que se dedica a um familiar. Para isso, a Censuswide realizou 578 entrevistas online, entre julho e agosto de 2018, com participantes de 18 a 75 anos – mas a maioria tinha de 35 a 55 anos.
Também foram consideradas 67 entrevistas via Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Grupar-EncontrAR, Instituto Oncoguia, Blogueiros da Saúde e Amigos Múltiplos pela Esclerose.
Os dados, divulgados na quarta (26 de setembro) durante o Congresso Todos Juntos Contra o Câncer, em São Paulo, são reveladores. Para começar, 46% dos entrevistados cuidam de seus pais. Todo esse pessoal passa, em média, 24 horas por semana nessa função.
Agora, o que mais chama a atenção: 53% declararam se sentir cansados na maior parte do tempo e 46% contaram não ter uma brecha na agenda para marcar ou comparecer às próprias consultas médicas.
Para completar, 61% assumiram que precisam de atendimento em decorrência de sua saúde mental. E dois a cada cinco cuidadores disseram colocar o bem-estar do paciente acima do seu. Apesar disso, 68% dos respondentes afirmaram que zelar pela pessoa amada ajuda a apreciar mais a vida, enquanto 57% citaram que, embora desafiadora, essa função traz recompensas.
“O brasileiro não considera o fato de ter que cuidar de um ente querido um peso. Para ele, é uma demonstração de carinho”, analisa o diretor médico da Merck Brasil, Ricardo Blum.
Apesar disso, é preciso focar bastante na saúde desses indivíduos que se dedicam a alguém doente. “O familiar é de extrema importância para que o paciente seja tratado adequadamente e, sua trajetória, suavizada. Então, é necessário que ele esteja bem”, afirma Blum.
Ele relata que no mundo inteiro o foco do atendimento médico ainda é o paciente e que não existem clínicas pensadas para os cuidadores. “É um problema de saúde pública que não recebe atenção. O primeiro passo para mudar isso é levantar o debate”, aponta. Até porque se essa rede de apoio ganha destaque e acompanhamento próximo, o familiar doente acaba beneficiado também.