Promoção: Revista em casa a partir de 10,99
Continua após publicidade

Informação simples sobre saúde é chave para o engajamento no autocuidado

Em entrevista, especialista explica o conceito de letramento em saúde e a importância da comunicação eficaz no contexto da autogestão de cuidados

Por Abril Branded Content
Atualizado em 28 Maio 2024, 17h43 - Publicado em 2 Maio 2024, 09h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Letramento e educação em saúde são expressões cada vez mais presentes quando se trata da comunicação capaz de promover o empoderamento das pessoas em relação a seu próprio bem-estar e qualidade de vida.

    Entre os focos do Prêmio Autocuidado em Saúde ACESSA, comunicação e autoconhecimento formam a base de uma das categorias contempladas, a que busca reconhecer projetos com potencial para capacitar os indivíduos a obter, processar e entender informações básicas para tomar decisões sobre saúde apropriadas.

    O conhecimento é também primordial para o Uso Racional de MIPs e outros Produtos, nome de outra categoria da premiação, esta voltada a destacar iniciativas que propiciem não apenas o uso correto de medicamentos isentos de prescrição, mas também produtos e serviços que facilitem toda a jornada do autocuidado – a exemplo de autotestes, dispositivos tecnológicos de automonitoramento, assim como suplementos alimentares e dermocosméticos.

    Para entender melhor esses conceitos e sua importância no engajamento da população em torno do autocuidado, entrevistamos o médico Rogério Malveira, que estuda o tema há 11 anos. Rogério é médico de família e comunidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Malveira é também um dos jurados do Prêmio Autocuidado em Saúde ACESSA, hoje em sua terceira edição.

    Letramento em saúde é chave para o autocuidado
    Rogério Malveira, médico de família e comunidade pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e mestre em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). (Samhouse (@samhouseprod)/Divulgação)

    Como criador do Pulsares, plataforma que tem como objetivo simplificar a linguagem e as instruções de receitas médicas, poderia explicar a importância da comunicação do ponto de vista das decisões sobre saúde e os entraves que dificultam o entendimento da população?

    Continua após a publicidade

    Todo o processo de saúde acontece por meio da troca de informação, seja escrita, falada ou mesmo por gestos e símbolos. Sendo o ser humano um ser social que se comunica e saúde um aspecto inerente à vida, saúde é comunicação e vice-versa. Só há saúde onde existe comunicação eficiente, todo fazer saúde é comunicativo. E, mais que isso, saúde envolve aprender informações e aplicar mudanças, ou seja, é um processo educacional. Profissionais de saúde são mediadores de conhecimento, o que infelizmente não é uma visão disseminada. Além desse, o desafio na comunicação e saúde reside em quatro pontos principais: 

    – O excesso informacional em que vivemos, quando há muitas informações verídicas e falsas. Em uma edição de jornal impresso, por exemplo, há a mesma quantidade de signos a que uma pessoa era exposta durante a Idade Média. Como navegar nesse mar informacional? 

    – O conhecimento tecnológico e científico avançou mais que a disseminação eficiente desse conhecimento, o que gerou abismos de compreensão entre as pessoas. Para quem o conhecimento é produzido e com que interesse? A quantidade supera a qualidade.

    – A hierarquia de poder nas relações na área da saúde que ainda permanece. A vergonha é a grande barreira na comunicação. Quantas pessoas sentem-se confortáveis em dizer que não entenderam algo a um profissional de saúde? 

    Continua após a publicidade

    – A sobrecarga assistencial e de trabalho, na qual não há espaço para profissionais estarem atentos de fato para a comunicação. Se não há espaço de autocuidado e reflexão, não há como brotar um cuidado humano.

    Qual a melhor definição para letramento em saúde e os principais desafios enfrentados para a disseminação e aplicação desse conceito?

    Há muitas definições para o termo. Gosto de dizer que letramento em saúde (LS) é verbo, ação, se conectar com a realidade que acontece, e não somente com o que quero. O que a pessoa faz com aquilo que eu comunico? O que eu compreendo do que essa pessoa me traz? É alinhar as pessoas envolvidas num processo de saúde. Baseado na definição de Sorense de 2012, LS é como as pessoas acessam, avaliam, interpretam e aplicam as informações sobre saúde para manter ou melhorar a sua qualidade de vida. Mas esse processo não é individual. As instituições de saúde (hospitais, clínicas, indústrias e qualquer órgão que produza informação em saúde) participam, tanto que há o letramento organizacional em saúde: como as organizações apoiam o LS. Importante notar que se fala aqui de saúde em sua visão ampliada, não somente tratar doenças, mas promover saúde e qualidade de vida. O LS envolve qualquer situação e contexto de saúde. Não é somente sobre o que eu digo, mas como o outro o recebe e o que faz com isso – muda algum hábito? Reforça uma atitude? É entender que quantidade sem qualidade e checagem não muda realidade, só atinge indicador. O objetivo do cuidado envolve atingir um entendimento em comum, não só informar e falar de um assunto. É mais que ensinar – do latim insignare, colocar uma marca –, é aprender.

    Acredito que a melhor definição depende de quem pergunta. Para um gestor, por exemplo, pode-se dizer que considerar o letramento em saúde reduz custos e gera melhores desfechos em saúde. Para um profissional formal de saúde, pode-se dizer que considerar o LS aumenta a adesão ao tratamento e torna o tempo de consulta mais efetivo. Para pessoas que buscam o cuidado em saúde (paciente), o LS representa autonomia, empoderamento e segurança. E para um profissional que produz rótulos, embalagens ou campanhas, o LS aumenta o engajamento com o produto.

    Continua após a publicidade

    Dentro do LS há técnicas e estratégias ditas “letradas”, ou seja, que propiciam a realização do LS. O desafio é que pouco ainda se fala dessas técnicas e do próprio termo. Até 2017, menos de 40 estudos sobre o tema existiam no Brasil – por mais que aqui tenhamos a Educação Popular em Saúde, que guarda relação com o LS. Falar de LS envolve mudar cultura e hábitos, compartilhar o poder das decisões, e aí reside o desafio. O quão preparados estamos para mudar algo que há séculos acontece a partir de uma mesma lógica? 

    De maneira geral, os profissionais de saúde estão preparados para uma comunicação mais eficaz e humanizada? 

    De maneira geral não, mas a mudança acontece. Por muitos anos nas faculdades de saúde – especialmente a médica –, predominou o paradigma biomédico, que tem ligação com o paradigma cartesiano, em que o foco é o biológico. Esse paradigma estabelece relação com o modelo de comunicação da agulha hipodérmica, no qual o profissional assume que a informação vai penetrar na pessoa, como uma agulha, e ela vai assimilá-la da mesma forma que foi pensada. Na década de 1950, houve a crise da medicina, e ganhou força o paradigma biopsicossocioespiritual, que valorizou os fatores que o paradigma biomédico negligencia. Nesse paradigma “novo” – mas na verdade antigo e esquecido –, o biológico é parte de uma rede maior e complexa, e não somente único e hegemônico. O modelo de comunicação passa a abranger outros elementos e é entendido como partes que chegam a um entendimento em comum. É uma lógica parecida com o paradigma clássico newtoniano e o paradigma quântico. Dentro da medicina, quem mais representa essa visão é a medicina de família e comunidade, bem como demais profissionais não médicos. Fazer uma comunicação mais eficaz e humanizada é considerar o LS e, como dito, uma mudança de cultura. É preciso atenção, dedicação e escolher fazer diferente. E por mais que o profissional queira, há o fator limitante do ambiente: o quanto sistemas de saúde favorecem que uma comunicação humana aconteça? 

    De que forma a educação em saúde pode estimular as pessoas a terem um papel mais ativo em prol de mais qualidade de vida? 

    Continua após a publicidade

    Na medida em que se entende o fazer saúde como um processo em que uma pessoa vai acessar, avaliar e compreender a informação, para aí aplicá-la e fazer uma mudança ou transformação, é possível criar espaço para a responsabilidade surgir. Tanto de quem está provendo o cuidado ou informação em saúde – ao entender que tem a responsabilidade de fazer a informação ser o mais compreensível possível – quanto de quem está recebendo o cuidado, ao responsabilizar-se por sua parte, que, dependendo do seu contexto, pode ser mais difícil do que já é normalmente. O processo educativo em saúde reconhece a ambivalência da mudança, ou seja, que há uma vontade de mudar ao mesmo tempo que há uma vontade de não mudar. Esse processo favorece a autonomia e cria um espaço de segurança para a pessoa vulnerabilizar-se.

    Inteligência artificial e plataformas digitais vêm transformando a saúde. Que avanços tecnológicos se destacam no que diz respeito ao autocuidado? 

    De maneira geral, entre as ferramentas que ajudam a navegar no mar informacional e a lidar com as barreiras para a mudança destacam-se: plataformas que conectam pessoas com determinadas condições de saúde ou pessoas engajadas em uma mudança de hábito; que explicam patologias, medicamentos, processos de mudança de hábitos de forma mais simples; que facilitam o tratamento e a mudança; que organizam as informações sobre saúde. Existe uma infinidade. Também há a inovação em produtos para o autocuidado mais eficazes. Vale pontuar que mudanças simples em processos, como adaptação de linguagem, têm o potencial de gerar melhorias e impactos consideráveis. O simples demanda tempo e técnica para ser executado.

    Qual o papel de uma premiação como a da ACESSA na disseminação do autocuidado?

    A premiação promovida pela ACESSA permite disseminar as estratégias para o autocuidado individual e coletivo, bem como difundir o conceito. Também reconhece o que está sendo feito e que merece ser reproduzido ou ampliado. Numa era de excesso informacional, é fundamental abrir espaço para iniciativas práticas e que lidam com o real e seus desafios.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    SEMANA DO CONSUMIDOR

    Assine o Digital Completo por apenas R$ 5,99/mês

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
    Apenas R$ 5,99/mês*
    ECONOMIZE ATÉ 59% OFF

    Revista em Casa + Digital Completo

    Nesta semana do Consumidor, aproveite a promoção que preparamos pra você.
    Receba a revista em casa a partir de 10,99.
    a partir de 10,99/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.