Por Valéria Baraccat Gyy
A lei que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a realizar a cirurgia de reconstrução das mamas imediatamente após a retirada do câncer ou quando existem condições médicas adequadas está em vigor há mais de três anos. Na prática, porém, nem todas as mulheres têm acesso a esse direito. De acordo com o Ministério da Saúde, das 9,1 mil submetidas à mastectomia em 2015, 85% tiveram as mamas reconstruídas. Se os números acima correspondem à realidade, são 1 300 mulheres que ainda não conseguem se olhar no espelho. Parece pouco, mas são mais de mil tristes semblantes convivendo com o fantasma da mutilação.
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Enquanto faltam próteses e hospitais e profissionais capacitados para esse tipo de cirurgia, a doença avança, a autoestima desaparece e sobram angústia, medo e impotência. Como levar uma vida normal sem o principal símbolo da feminilidade? As mamas são os órgãos de maior referência corporal para nós. Se todos estamos aqui é porque uma mulher nos gerou. Nosso primeiro alimento veio das mamas. Lenços, perucas e maquiagem não são suficientes para devolver a autoestima. Quando se reconstrói a mama, voltamos a nos sentir inteiras. A mulher mastectomizada perde não apenas autoestima. Perde também qualidade de vida — depressão, casamentos destruídos, sexualidade ferida e desemprego tendem a fazer parte da rotina de muitas delas. É o que atesta um estudo recente realizado pelo conceituado Centro do Câncer MD Anderson, nos Estados Unidos.
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Os especialistas examinaram, durante quatro anos, o bem-estar psicossocial de 216 pacientes durante o processo de reconstrução das mamas. A pesquisa mostrou que mulheres que tiveram a mama reconstruída apresentaram ganhos significativos em relação à qualidade de vida e à imagem corporal. Quanto mais cedo era feita a reparação, menos expostas elas ficavam aos problemas emocionais. Esse trabalho só confirma o que já vivenciamos no Instituto Arte de Viver Bem, que, desde 2009, dá apoio a pacientes com a doença. Depois de passar eu mesma por 15 cirurgias e conviver diariamente com outras mulheres que aguardam pela volta de sua feminilidade, espero que este Outubro Rosa seja diferente. Que ele não venha somente alertar a população sobre a importância da detecção precoce mas também conscientizar a sociedade e o governo sobre a urgência de botar em prática políticas de resgate da autoestima e da qualidade de vida de mulheres que atravessam essa difícil experiência.
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