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Shakes: quando apostar

Ele é o carro-chefe dos chamados substitutos parciais de refeição. Saiba em quais situações vale a pena recrutar os shakes para ajudar no emagrecimento

Por Thaís Manarini
Atualizado em 24 dez 2016, 11h10 - Publicado em 24 dez 2016, 11h10
Os shakes vêm ganhando popularidade no Brasil (Foto: Tomás Arthuzzi/)
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No último congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), uma palestra da área de nutrição surpreendeu por seguir a melhor linha “tribunal de justiça”. Primeiro, um especialista ficou com a missão de citar pontos favoráveis em relação ao uso de substitutos parciais de refeição – grupo que tem shakes e sopas como principais representantes. Logo depois, veio o encarregado de derramar o balde de água fria, listando desvantagens. De um lado e do outro, os argumentos vinham baseados em evidências científicas, o que tornou o momento ainda mais apetitoso.

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Para começo de conversa, ficou claro que nem todo shake ou sopa podem ser considerados substitutos parciais de refeição. Para ganhar essa classificação segundo as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o produto deve ofertar uma quantidade pré-determinada de calorias, vitaminas, minerais, gorduras, proteínas e por aí vai – a ideia é que ele auxilie na perda de peso sem causar deficiências nutricionais.

Só que muitos shakes encontrados no mercado não seguem esse padrão, simplesmente porque são formulados e indicados para outros fins, como turbinar o pós-treino da academia. Nesse caso, eles não deveriam ser ingeridos no lugar de uma grande refeição.

Além de shakes, a Herbalife, líder do segmento, conta, por exemplo, com duas sopas: enquanto uma tem perfil de lanchinho, a outra possui composição adequada para servir de almoço ou jantar. Já a Optifast, marca da Nestlé Health Science e da Sanofi voltada a quem está acima do peso, oferece uma linha com omelete, sopa e mousse.

Mas só a bebida de sabor baunilha faz parte do time dos substitutos parciais de refeição. Ficar atento à embalagem é crucial, como ensina a nutricionista Mariana Del Bosco, da capital paulista: “Os estudos que nos dão segurança para indicar shakes e afins foram feitos com itens dessa categoria. Se a fórmula for diferente, não dá para garantir os mesmos resultados”.

Um dos estudos mais clássicos que dão respaldo à classe é o Look Ahead, conduzido nos Estados Unidos com mais de 5 mil diabéticos – que naturalmente têm maior dificuldade para emagrecer. Enquanto uma parte recebeu orientações tradicionais para controlar a doença, o restante foi incentivado a mudar o estilo de vida pra valer, o que incluía a possibilidade de usar shakes e companhia (na terra do Tio Sam, também dá para apostar em barrinhas). No primeiro ano de intervenção, esse último grupo consumiu cerca de 360 substitutos de refeição e eliminou 8,6% de seu peso inicial, contra 0,7% daqueles que ficaram só nas recomendações habituais.

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A partir de resultados desse tipo, diversas entidades de prestígio reconhecem tais produtos como alternativas seguras para ajudar na redução das medidas. Entre elas está a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

“Não é que a gente estimule essa estratégia, mas entendemos que é possível empregá-la”, esclarece a endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora da instituição. Aí que está o pulo do gato: é preciso entender para quem, e até quando, faz sentido trocar uma grande refeição por um shake.

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Segundo Mariana, se você segue o estilo “tomo café da manhã, almoço e janto”, não há motivo para riscar um desses momentos da rotina. Nesse caso, para ver a cintura afinar, compensa focar direto na reeducação alimentar. “Até porque comer é muito mais do que se nutrir. Falamos de um hábito que inclui o convívio social”, diz Maria Edna.

Por outro lado, as bebidas e sopas quebram um galhão quando se está diante de situações problemáticas. “Se o sujeito pula o desjejum ou na hora do almoço só consegue comer uma coxinha na padaria, aí os substitutos de refeição são uma boa saída”, observa Mariana. Isso, claro, se ele curtir a consistência e os sabores – senão, é desistência na certa.

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Quem deve ponderar os prós e contras e traçar a melhor forma de tirar proveito da categoria dos shakes é o profissional de saúde. Inclusive, contar com acompanhamento é condição básica para exterminar o peso excedente de uma vez por todas.

“Até porque a tendência é o indivíduo não manter o consumo desses produtos por muito tempo”, analisa Antonio Herbert Lancha Junior, professor de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e autor do livro O Fim das Dietas. “Então, se nesse meio tempo ele não fizer a correção do padrão alimentar com o auxílio de um especialista, acabará voltando para a dieta anterior”, raciocina. Aí o drama está armado, pois, junto com os velhos hábitos, retornam os quilos.

Segundo o nutricionista Marcus Vinicius Lucio dos Santos, da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva, o reganho de peso é comum entre quem investe nos shakes por conta própria e com base na experiência do vizinho. “Geralmente não há uma mudança no estilo de vida”, diz.

O cenário piora se o indivíduo associar o uso desses produtos a restrições severas no resto do dia. Uma das consequências é perder massa magra além do esperado. Isso preocupa porque os músculos ajudam na queima de calorias mesmo durante o repouso. Se eles vão embora, esse processo fica menos intenso. Daí, quando a pessoa desiste dos shakes e volta à alimentação habitual, o caldo desanda. “Com a redução no gasto energético, é possível ganhar até mais peso do que antes”, conclui Santos.

A massa muscular, coitada, também entra na mira caso a utilização de substitutos parciais de refeição seja encarada como uma prerrogativa para cancelar o plano na academia ou a caminhada no parque. Em estudo recente, pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, viram que isso passa pela cabeça de muita gente que decide trocar o jantar por um substituto de refeição.

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Eles entrevistaram 490 mulheres, das quais 221 consumiam esses produtos. Os resultados evidenciam que essa parcela tinha convicção de que implementar comportamentos saudáveis, como praticar exercícios, tornava-se menos relevante quando shakes e similares entravam em cena. Ledo engano.

“Você até consegue perder peso sem atividade física. Mas uma boa proporção disso é massa magra”, avisa Lancha. É como se a balança pregasse uma pegadinha: apesar de o ponteiro exibir uma acentuada queda, a gordura permanece incrustada no corpo.

De olho nisso, Mariana reforça: “O substituto de refeição não deve substituir o profissional de saúde”. Afinal, o certo é que o produto faça parte de um momento de transição, no qual o mais importante é o início de uma relação equilibrada com a comida – sim, os alimentos de verdade podem voltar à rotina.

Respeitando esses poréns, dá para cogitar os shakes para finalidades que vão além do emagrecimento. “Dentro de uma dieta adequada, eles podem ajudar a regular os níveis de açúcar e colesterol no sangue”, exemplifica Lancha.

Agora, se a pessoa conviver com o diabete, obviamente não pode pegar qualquer produto na prateleira. “Há shakes específicos para esse público”, avisa Maria Edna. Ela lembra também que pessoas com insuficiência renal precisam tomar cuidado com bebidas superproteicas, já que há o risco de sobrecarregar os rins. “Quando falamos de indivíduos com problemas de saúde, o acompanhamento especializado se faz mais necessário ainda”, avisa Santos.

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O nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, dá mais um recado: “Embora esses produtos concentrem os macro e micronutrientes essenciais para o organismo, não se recomenda usá-los em todas as refeições do dia”.

O limite fica entre uma ou duas. Para Lancha, furada mesmo é tomar bebidas para o controle de peso por duas semanas e depois retornar ao padrão “enfiando o pé na jaca”. Isso é banalizar a alimentação, um comportamento que a cintura não perdoa – independentemente se você recorre aos shakes ou não.

Versão caseira?

Não adianta bater uma vitamina em casa e colocá-la no lugar do jantar. Ao pé da letra, isso é substituir uma refeição – porém, de maneira equivocada. A categoria dos substitutos parciais de refeição é formulada a partir das nossas necessidades diárias de nutrientes. “Uma vitamina caseira não terá essa composição”, alerta a endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. O mesmo vale para iogurtes, barrinhas, sucos etc.

Mandamentos dos substitutos de refeição

Vá atrás de um especialista: ele determina o momento ideal para tomar o shake ou a sopa e corrige todo o padrão alimentar.

Não troque mais de duas refeições: ninguém deve viver à base desses itens. Fora que comer é um ato de prazer.

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Investigue o rótulo: nem todo shake e sopa são considerados substitutos parciais de refeição.

Não descuide da alimentação: repensar todas as escolhas à mesa é crucial. Caso contrário, os quilos perdidos vão voltar.

Permaneça firme nos exercícios: abandonar a atividade física pode resultar em perda de massa magra, e não de gordura.

Evite as compensações: trocar o café da manhã por uma bebida não é desculpa para jantar hambúrguer todo dia.

 

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