Nas prateleiras dos supermercados e mesmo em consultórios de estética, o sal rosa do Himalaia se estabeleceu como tendência duradoura. Mais caro que o sal marinho comum, ele promete ser mais saudável. Mas, por enquanto, faltam pesquisas científicas para comprovar os benefícios e sobra propaganda.
O primeiro alerta vem da Organização Mundial da Saúde (OMS): seja branco, rosa ou de outra cor, o sal consumido por dia não deve ultrapassar de 5 g – o equivalente a uma colher de chá. O consumo de sódio em excesso traz diversos prejuízos para o organismo, e, em geral, os brasileiros ingerem bem mais sal do que o recomendado (cerca de 14 g diárias).
Nessa contagem, não entra só o sal adicionado ao feijão ou à batata frita. Deve ser contabilizado todo o sódio ingerido, incluindo aquele presente em comidas industrializadas. E aí fica a armadilha: o sódio não está presente apenas em alimentos salgados, e mesmo doces podem ter quantidades exageradas.
+Leia também: Menos sódio nos industrializados, menos males cardíacos
O excesso de sal na dieta pode contribuir para problemas cardiovasculares, como o aumento da pressão arterial – a hipertensão. Claro que ter sódio no corpo é importante para manter o equilíbrio hídrico, para o bom funcionamento dos impulsos nervosos e das contrações musculares.
Mas a quantidade necessária é bem menor do que a que costumamos ingerir: a máxima de 5 gramas diárias corresponde ao limite de 2000 miligramas de sódio por dia. Um pacote grande de batatinhas fritas industrializadas, por exemplo, já equivale a um terço disso.
Qual a diferença entre os tipos de sal?
Todo tipo de sal é, na verdade, um composto básico: o cloreto de sódio. Marinho, grosso, refinado ou rosa, a base é a mesma. A diferença fica na origem e no processamento.
O sal marinho vem da água de represas ou depósitos do mar. Como não é processado, tem menos aditivos e mantém maior quantidade de minerais.
+Leia também: Sal: tem que dosar até se a pressão for normal
Daí, as distinções ficam de acordo com o grau de processamento. O sal grosso é mais rústico e o refinado, mais processado. Esse último, então, tem menos minerais e mais aditivos.
Já o sal “light” tem menos sódio porque há uma mistura de cloreto de sódio com cloreto de potássio – o que não libera seu uso indiscriminado, já que ambos os compostos em excesso trazem problemas à saúde.
E o sal rosa do Himalaia, qual a diferença?
Primeiro, é preciso explicar de onde ele vem. A cordilheira do Himalaia se estende por cinco países asiáticos: China, Índia, Paquistão, Butão e Nepal. No geral, o sal rosa encontrado nos supermercados não vem exatamente do Himalaia, mas de áreas próximas à cordilheira, no Paquistão.
A diferença de cor é consequência da presença de minerais como cálcio, magnésio, potássio e ferro no sal. Segundo a propaganda, esses minerais promoveriam benefícios à saúde maiores do que o sal comum.
Mitos e incertezas sobre o sal do Himalaia
O problema dos supostos benefícios em consumir sal do Himalaia é que, para que esses minerais presentes no composto tivessem algum efeito sobre o organismo, seria necessário ingerir quantidades enormes de sal.
Nesse caso, a quantidade de sódio seria tão grande que anularia qualquer vantagem trazida pelos outros minerais.
Outra promessa é que o sal rosa teria menos sódio que o sal comum. Isso até é verdade, mas a diferença é pequena e insuficiente para representar uma redução no nível de sódio na dieta.
Para completar, existem poucas pesquisas científicas sobre a composição do sal rosa do Himalaia e os supostos benefícios. Uma inconsistência pode ser vista a partir do caso do iodo.
O iodo é adicionado ao sal de cozinha com o propósito de prevenir doenças como bócio e hipotireoidismo – causadas pela deficiência do nutriente. Uma pesquisa recente mostrou que a quantidade de iodo no sal rosa não é padrão, e varia de marca para marca.
Em questão de saúde, outra pesquisa não encontrou diferenças significativas no nível de sódio de pessoas com hipertensão que consumiram ou sal comum ou sal rosa.
Tampouco existem pesquisas comprovando os benefícios de luminárias ou câmaras de sal rosa que, segundo clínicas estéticas, promoveriam diminuição de estresse e melhorias para o sono e para a depressão.
O sal rosa ainda pode conter compostos danosos à saúde, já que não há um padrão claro para sua composição. A dica aqui é checar bem o rótulo e conferir se o sal se dissolve em água – todo sal precisa ser solúvel em água.