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Conheça o kefir, kombucha e outras comidas vivas

O que a ciência já sabe sobre as propriedades nutricionais desses alimentos cheios de micro-organismos vivos

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 19 set 2018, 11h51 - Publicado em 28 mar 2017, 09h02
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 (Foto: Tomás Arthuzzi e Ilustração: Ana Cossermelli/SAÚDE é Vital)
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À primeira vista, os alimentos cheios de micro-organismos como o kefir, que protagonizam esta matéria, podem até causar rejeição. Mas isso não é um problema para os seus fãs cada vez mais numerosos. Se cultivadas direito, essas receitas podem durar anos e beneficiar a saúde.

Kombucha

A teoria mais antiga diz que ele era considerado um elixir da longa vida na China há pelo menos 4 mil anos. O kombucha nada mais é do que um chá fermentado com um disco gelatinoso, conhecido como scoby, onde vivem diversos fungos do tipo levedura e bactérias. É a combinação de todos esses minúsculos seres vivos que traria um efeito proveitoso ao nosso corpo.

“Os micro-organismos ingeridos no caldo ajudam a recolonizar o intestino e a melhorar o trânsito por ali. Isso é bem-vindo tanto para a eliminação de toxinas como para o controle do colesterol”, explica a microbiologista Sheyla Rodrigues, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe. A pesquisadora viu na prática como esse grupo combate agentes por trás de infecções intestinais, como a Escherichia coli. Sem contar que a base da bebida é o chá, que por si só contém minerais, vitaminas e antioxidantes.

Para cultivar em casa, é preciso ganhar um “filhote” do scoby e mantê-lo vivo com uma mistura de açúcar e chá-preto, verde ou mate. As alegações terapêuticas propagadas são muitas: de perda de peso a tratamento do câncer. Mas nem todas têm comprovação. Embora estudos de laboratório mostrem resultados animadores, faltam evidências de superbenefícios em humanos.

Para evitar efeitos indesejados, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) recomenda um limite de 300 mililitros por dia. Tem mais: o teor alcoólico da receita. Algumas pesquisas mostram que, na versão caseira, ele chega a 3%. A título de comparação, uma cerveja comum tem cerca de 4%. Nas versões industrializadas, ainda pouco comuns aqui, o nível não ultrapassaria 0,5%. Veja se você tem contraindicações.

Kefir

O gosto levemente azedo divide opiniões, mas suas proezas à saúde estão virando unanimidade entre os especialistas. “O kefir é um probiótico, ou seja, tem micro-organismos que chegam vivos ao intestino e são vantajosos à microbiota”, define a nutricionista Cynthia Antonaccio, da consultoria Equilibrium, em São Paulo.

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Formada por grãozinhos de polissacarídeos (um tipo de carboidrato), a colônia se reproduz tanto no leite quanto na água com açúcar mascavo — o leite, porém, é mais usado. “Trata-se de uma associação de bactérias e leveduras, que fermentam de três maneiras diferentes e liberam ácidos láctico e acético, vitaminas do complexo B, vitamina C e alguns aminoácidos”, detalha Karina Magalhães, microbiologista da Universidade Federal da Bahia.

A união dos bichinhos dá uma força para o organismo. “Já existem efeitos comprovados no aumento da imunidade, controle de inflamações e melhora do sistema digestivo”, diz Karina. Assim como o kombucha, o kefir parece enfrentar micróbios que causam infecções intestinais e outros pepinos.

Estela Saraiva Pitanga, confeiteira de 29 anos, é adepta do preparo e testemunha do seu valor. “Comecei a consumir há dois anos principalmente para aliviar as cólicas renais e agora é muito difícil eu sentir dor”, relata a paulistana, que também viu o intestino entrar no ritmo. Dificilmente encontrada à venda, a cultura costuma
ser doada pela internet ou entre amigos.

Levain

De origem francesa, ele é um fermento natural produzido artesanalmente e que dura décadas. “A base é feita com um líquido rico em nutrientes e farinha de trigo branca”, explica Leonardo Andrade, sócio da Companhia dos Fermentados, em São Paulo, que dá cursos sobre o levain.

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Assim como na versão comprada no supermercado, as bolhas de ar da mistura caseira são fruto do Saccharomyces cerevisiae, o mesmo fungo que é usado na cerveja. Mas ele não está sozinho. “Com as outras leveduras do levain, a fermentação ocorre melhor. Como resultado, o pão fica mais leve e com textura agradável mesmo que seja integral”, destaca a nutricionista e expert em gastronomia Andrea Esquivel, de São Paulo. “Além disso, o sabor do pão é único, uma vez que o fermento artesanal contém as bactérias do ambiente onde vive”, completa.

É comum ouvir dizer que ele também melhora a digestão das receitas onde é usado, mas ainda não há confirmação científica. O que se sabe é que o levain pode aumentar a disponibilidade de minerais da farinha, como magnésio, zinco e ferro.

Leite fermentado

A vantagem das bebidas com probióticos (as bactérias do bem) que já são vendidas prontas no mercado é que, além de praticidade, oferecem segurança. “A fermentação natural é ótima, mas há o risco de contaminação pelo meio ambiente”, pondera o nutrólogo Dan Waitzberg, da Universidade de São Paulo (USP).

Além disso, o consumo dos cultivos domésticos não é liberado para todos. “Pessoas com doenças que abalam o sistema imune, como câncer, estão sujeitas a infecções oportunistas que normalmente não afetariam outros indivíduos”, ilustra Andrea. Nos produtos industrializados, a cultura não cresce livremente. As bactérias são registradas e controladas. Até por isso a bebida deve ficar na geladeira. “Esses cuidados evitam que a multiplicação saia de controle e micro-organismos nocivos apareçam”, diz a bioquímica Susana Saad, da USP.

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Em nome da segurança
Todos os preparos desta reportagem demandam extremo cuidado. A regra básica é manipular tudo com as mãos limpas e tampar os recipientes com tecidos higienizados ou materiais que permitam a passagem dos gases produzidos pela fermentação. Os vasilhames mais seguros são os de vidro, que não deixam a mistura azedar.

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